Quando J Cristo quis divulgar pelos povos a sua concepção do mundo, escolheu para mensageiros os seus melhores discípulos. JC acreditava, com razão, que os melhor colocados para difundir a sua verdade eram, claro, aqueles que melhor a tinham assimilado.
Hoje, quando a economia neo-liberal procura perpetuar-se como modelo de gestão social, os seus principais actores reúnem nos templos do capitalismo os discípulos e escolhem entre os que melhor assimilaram as suas verdades os seus apóstolos.
Mudam os tempos, os templos e as verdades, mas mantém-se o método. Só que, nesta nova ordem, os "evangelhos" estão escritos a cifrões, e os heróis do nosso tempo já não libertam donzelas cristãs prisioneiras em fortalezas pagãs - passeiam-nas de Ferrari pelas marginais. Eles são o produto sem defeito duma linha de montagem de criaturas sem dúvidas, tão cheias de certezas que invocam Deus e a Ciência com a mesma fé dogmática.Nem os modelos "T" da Ford saíram tão iguais das linhas de montagem que inauguraram a produção em série. E as Universidades que os produzem, que eram os lugares da Terra onde o conhecimento avançava pela capacidade de se questionar permanentemente a si próprio, transformaram-se nos templos do capitalismo de mercado onde a excelência se define pela capacidade de assimilar e reproduzir com fidelidade a ordem estabelecida, papagueando as sebentas assinaladas.
São os perfis destes "primus inter paris" que, findo o processo iniciático, aparecem estampados nas páginas centrais dos jornais de referência. Paramentados com o fato e gravata ou o "tailleur" da regra, debitam para a posteridade os clichés e lugares comuns que deixam em êxtase babado progenitores e mestres. Nem um só pensamento original ou dissonante; nenhuma dúvida; nem um pingo de irreverência.
No currículo, além das grandes notas das faculdades de economia, pontuam autênticas pérolas: "catequista desde os 17 anos". Comovente, tanto amor a Deus e ao próximo. Apetece perguntar se quando chegarem aos quadros do Banco cujo CEO frequenta a Missa das 7 na Igreja da mesma paróquia (onde, de resto, já se catequiza o jovem CEO Júnior the Third) irão recuperar o secular ódio de Cristo pelos agiotas ...
Eles, os "Primus inter paris", são a prova provada do sucesso da minha geração. Nós, trocamos os ideais pelo recheio das contas bancárias, a moral por BMW's de função e a ética por vivendas em domínio público marítimo. Eles, seguem-nos os passos. Mais, serão ainda melhores que nós. Porquê ? Porque os expropriamos da história. Por isso só sabem conjugar o tempo na 1ª pessoa e no presente do indicativo. Assim, sem os pruridos de consciência que nós ainda tivemos a atrapalhar-nos a voragem burguesa, assumem a intervenção social como mero instrumento do seu próprio sucesso individual.
Se nos restasse uma réstia de discernimento e bom senso, talvez nos inquietássemos quando os ouvimos oferecer à plebe indiferenciada a opção democrática da escolha: "eles" ou o caos da barbárie! Mas não! Abrimos o sorriso de orgulho imbecil típico do dono do cachorro que aprendeu a dar a pata.
Nós, fomos insubstituíveis porque instalamos a mediocridade no poder. Eles, irão sê-lo porque tudo farão para a perpetuar. Portanto, Amém!