O Jornal Público de ontem, citando uma organização britânica, dava conta de um aumento assustador, durante os últimos trinta anos, daquilo a que chama “catástrofes climáticas” e que, para não variar, eram atribuídas às “alterações climáticas”.
A propensão jornaleira para a noticia catastrofista já é conhecida e por si não merece mais comentários.
O facto de existirem organizações que fazem destas coisas modo de vida e razão de existir dos seus protagonistas, também não é novidade.
O que merece referência continua a ser algo bem mais prosaico, a saber, a veleidade com que estas leituras se publicam sem sequer o dever de informar ter o prurido elementar de as sujeitar ao contraditório.
Se essa regra essencial na informação já não faz parte dos cânones jornalísticos, seria interessante que fossemos devidamente informados da ocorrência. Mas se ainda faz, das duas uma: ou a incompetência grassa em toda a estrutura editorial do Jornal, ou então há evidente má-fé e temos o Jornal objectivamente ao serviço de interesses afectos à tese das alterações climáticas.
No caso da notícia em referência as razões são óbvias. A realidade geográfica sobre a qual se abatem os fenómenos climatológicos não permaneceu constante ao longo dos últimos trinta anos. As últimas décadas têm assistido a migrações em escala faraónica para os litorais e para as periferias de grandes metrópoles. Nesse processo, o povoamento desordenado e precário em situações de óbvio risco, tem crescido descontroladamente. Veja-se o caso dos morros adjacentes ao Rio de Janeiro. Noutros casos, uma confiança desproporcionada na técnica força o povoamento para situações limite, como é o caso de Nova Orleães, construída em zona de delta e abaixo da cota do rio e do mar.
Ou seja, a probabilidade de impactos consideráveis sobre as populações em virtude de ocorrências climatéricas extremas é maior pela simples razão de que há muito mais gente em situação de risco.
Neste como nos outros casos, a tese das alterações climáticas é apenas um óptimo pretexto para os responsáveis sacudirem a água do seu capote.
O ano passado, por esta altura, houve uma antiga povoação piscatória no Algarve, entretanto transformada em meca turística, que mais uma vez meteu água. Onde? Na que apropriadamente é chamada “Rua do Barranco”, ou seja, que era um barranco (regionalismo para linha de água temporária) mas que agora é a principal rua do burgo. Mais, as casas maioritariamente comerciais que aí se construíram até caves têm. Resultado, quando chove um pouco mais que a conta e a maré está cheia, a água não escoa e é inundação garantida. Mas instado a pronunciar-se sobre a ocorrência, o ilustre Edil não se coibiu de mencionar as alterações climáticas como estando na origem do sinistro.
No caso, o jornalista de serviço assinou a peça e partiu para outra. Mas o Público, que não é um jornalzinho regional, deveria funcionar noutros patamares de exigência até por razões de respeito pelo seu público.
Se não o faz em situações tão flagrantes é por mera incompetência ou estará assalariado por interesses inomináveis ?
3 comentários:
Segui uma mensagem sua no RN, e há quase uma hora que estou lendo calmamente os seus escritos.
Como emocional que sou, adiro com demasiada facilidade à informação que os média veiculam.
Confesso-me surpresa por este olhar pelo avesso a que me conduziu. Vou voltar mais vezes porque o bom equilibrio precisa de um contra peso. Nesse aspecto os seus escritos são ideiais.
Obrigada!
Li o artigo a que alude.
Tavez nem "incompetência nem má-fé", Manuel Rocha, talvez "fazer lobie" ( não sei se é assim que se escreve...) seja a expressão mais adeuada para a dinâmica que bem refere.
A mecânica mercantilista que tudo inquina a isso obriga, e estou certo que desde os projectos editoriais às necessidades de financiamento das organizações que debitam estas análises instantâneas, os alinhamentos de interesses estão perfeitamente instalados. Como bem refere num outro dos seus excelentes post's, é " o ambiente a render de novo"!
Livra, que você é corrosivo.
Se tiver oportunidade logo me diz quem é o seu fornecedor de H2SO4.
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