segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Paisagens Alternativas ?

Há por aí uns cromos chamados ecologistas que têm o mau hábito de mandar umas bocas sobre o exagero dos consumos de quase tudo e nomeadamente de energia. Isto para grande irritação de todos os progressistas que objectivamente não entendem como é que ainda pode haver quem se imagine a gastar menos do que quer que seja !
Se já assim somos os mais atrasados da Europa, que seria da nossa sociedade se o consumo não crescesse para nos tornar mais desenvolvidos, não é verdade ?! É por isso que estes cromos, os ecologistas, apesar de até poderem ser simpáticos, têm vindo a ser trocados por outros, muito mais razoáveis, que se chamam “neo-verdes” e que, sim senhor, trazem na bagagem um discurso mais razoável e uma infinita panóplia de soluções, ideias fresquinhas, acabadinhas de inventar, com as quais nos garantem que é possivel transformar os problemas ambientais em "novas janelas de oportunidade".
É o caso das energias alternativas !

Como se sabe, nesta corrida atrás do bem estar e do progresso, a sociedade ocidental atingiu necessidades e níveis de utilização de energia assinaláveis. E ainda bem!
Graças à santa aliança entre o marketing, a ciência e a técnica, tem sido possível descobrir e comercializar novas soluções de utilização de energia, sem as quais ainda estaríamos no tempo dos macacos. Falo de coisas tão imprescindíveis como os conhecidos descascadores-fatiadores-automáticos de batatas, só para dar um exemplo .

Só que com tanto uso, o petróleo mirra de dia para dia, e daí que haja quem se atarefe, e bem, a procurar alternativas para as fontes clássicas, cuja escassez ameaça o tal desenvolvimento sustentável da malta, seja lá isso o que for !

Portanto, tem sido com naturalidade que entrou no discurso corrente de qualquer frequentador de café a questão das energias alternativas. Os telejornais das oito aí estão para esclarecer a rapaziada de que não há nada que não tenha solução. Assim o Governo o queira e daqui a meia dúzia de meses teremos carros à vela, navios a biodiesel, jactos a energia solar e por aí adiante.

Paulatinamente, a cumeada das serras começa pois a ficar definida por aerogeradores, que fazem as vezes dos moinhos de vento, entretanto desaparecidos por entre escombros de ruínas ou reconvertidos para unidades de turismo rural. Onde ainda havia levadas e azenhas, vão haver barragens e centrais hidroeléctricas. Nos campos do Alentejo crescem painéis fotovoltaicos onde antes cresciam searas e, se depender da GALP, o que sobra está em vias de ser reconvertido à produção de girassol para biodiesel, girassol que, como se sabe, até tem flor, tendo por isso uma mais valia significativa em relação ao trigo, nomeadamente na perspectiva do turismo. Quem tem por hábito ir assistir ao pôr-do-sol no mar, não faltará muito para que comece a ir assistir ao pôr-do-sol … nos geradores de ondas ou nos aerogeradores em off-shore. E só não se vê de novo a rapaziada por essas serras a apanhar esteva para as centrais de biomassa porque, ao contrário do que acontecia antigamente, quando a esteva era apenas lenha e ainda não era uma fonte de energia alternativa, o esforço físico é coisa que nas sociedades desenvolvidas se deve fazer apenas nos locais próprios, que são os ginásios, como se sabe !

Estamos pois na iminência da refundação da própria poética. Sophia, se cá voltasse, já não poderia rimar com propriedade o mar que avistava da janela que se abria sobre o seu jardim, se não recorresse a qualquer metáfora alternativa relacionada com as várias soluções para a obtenção de energia que entretanto devem estar a crescer entre o jardim da Sophia … e a linha do horizonte !
Portanto, a paisagem, tal como a conheciamos, caminha a passos largos para a condição de cenário dos clássicos do cinema, sendo substituída pela projectada alternativa, já em parte executada, de cenário de argumento de ficção científica.

Toda a paisagem?

Toda, talvez não !

Tal qual na antiga Gália do tempo de Astérix, talvez se safem umas pequenas parcelas vedadas que poderão resistir aos invasores graças à poção mágica do estatuto de Parque Natural. Estes, estão a ser transformados numa espécie de museus ao ar livre, onde se poderá ver paisagens e vida semi-selvagem como quem vê pintura, escultura, o Monte de S. Michele, Treblinka, ou…qualquer outra coisa com interesse turístico. Assim haja com que pagar as entradas, que os bilhetes já estão a imprimir.

Sendo este o nosso paradigma , pois claro que estamos no caminho certo, e portanto venham daí as alternativas ! Sobra no entanto um pequeno problema . São os tais ecologistas que se metem a fazer contas e, dizem eles, mesmo todas juntas, as alternativas não chegam nem para abrir e fechar as portas automáticas, quanto mais para mover as passadeiras rolantes ou accionar as escovas de dentes ! E eu, que tenho para mim que onde há fumo há fogo, fico preocupado ! Diabo !... Será que estamos mesmo tramados quando o petróleo der o berro ??...

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