sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O PISA e o Ridículo

O desconforto de quem protagonizou a oposição à ex Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, com os resultados agora publicados pelo PISA 2009, tem sido notório. Se fosse uma reacção digna, seria apenas isso – um desconforto. Mas não. Como os resultados não estão conforme as teses de descalabro eminente do sistema, então abundantemente defendidas para justificar a oposição às medidas propostas, os seus autores resolveram agora afanar-se na contestação ao PISA.

A maioria, básicos, começaram por atribuir os resultados ao facilitismo da avaliação sem cuidar de perceber que a avaliação é idêntica em todos os países participantes. Os sofisticados, a minoria, optaram por atribuir os resultados ao acaso. A óbvia fragilidade dos argumentos de uns e outros, oportunamente esquecidos de que antes usaram outros PISA como sólido suporte de contestação, foi salva pelos sindicatos, que vieram a público explicar em definitivo o fenómeno: os professores teriam resolvido dar uma chapada de luva branca na Ex-Ministra, arregaçando as mangas e trabalhando ( ?!) .

Poderia ilustrar o texto com vários links mas não gosto de contribuir para potenciar o ridículo de quem a ele assim se expõe. Quando se trata de classes profissionais inteiras, além de desgostoso fico também preocupado. Mas tratando-se de uma classe profissional que tem responsabilidades acrescidas na sociedade do futuro, “desgostoso” e “preocupado” não descrevem cabalmente o que sinto perante a imbecilidade desta reacção.

Considero que na Escola a falta de exemplos de referência é pior que quaisquer insuficiências de preparação cientifica ou pedagógica de muitos professores. Na verdade interessam-me menos os comparativos, sejam os resultados do PISA em ciências, matemática ou literatura , que a formação cívica e humana das criaturas que estão “condenadas” a passar na Escola uma parte muito significativa das suas vidas. A sensatez auto-critica que evita a exposição ao ridículo é uma parte importante dessa formação e cultiva-se pelo exemplo. Mas não com exemplos como este que os professores de novo nos deixam. Não me surpreenderam porque são coerentes com as invectivas ad-hominem em que usavam à saciedade o epíteto de “vaca” ( versão soft ) para nomear o adversário politico. Não me surpreendem, mas continuam a envergonhar-me!



13 comentários:

antonio ganhão disse...

Ó Manel, acreditar que o nosso sistema de ensino está melhor só de alguém que anda distraído... os professores perdem hoje mais tempo em tarefas burocráticas e não produtivas do que em acção lectiva. Por isso não pode existir um milagre de bons resultados. Para não falar na completa ausência de autoridade na sala de aulas com alunos de certas minorias...

Manuel Rocha disse...

Ó António, onde foi que eu não disse que o sistema de ensino estava melhor ? O que disse é que, em nome do minimo exigivel de honestidade intelectual, não se pode usar ferramentas como o PISA conforma dá mais jeito. No caso, a correlação entre a melhoria das performances medidas pelo PISA e as reformas introduzidas, existe. Se é causal, não sei. Sei é que apanhados na armadilha que eles mesmos construiram, os professores acabam a fazer mais uma triste figura. Se os resultados do PISA tivessem piorado, é capaz de adivinhar quem estariam agora a responsabilizar ? Pois !

Abraço.

Matilde Costa disse...

Ahaha !
O Manuel nunca perde uma oportunidade para dar a sua "alfinetada" nos seus amigos professores. Mas reconheço que numa coisa tem razão: a classe sabe pôr-se a jeito.

Matilde

José Luiz Sarmento disse...

Outros, ainda mais sofisticados, põem em causa a idoneidade da OCDE em matéria educativa e a sua isenção em matéria política e económica. Vêem na OCDE uma organização política, com uma agenda político-económica baseada numa ideologia que coincide, não por acaso, com a que o PSD/PS se esforça por incluir no senso comum (ou melhor, por impedir que saia dele, como começou a acontecer há três anos e continua hoje).

As conclusões deste relatório foram, de facto, uma derrota para quem se opõe ao pensamento único. As do próximo, quem sabe?

Manuel Rocha disse...

Errata ao meu comentário anterior:
onde se lê " onde foi que eu não disse" deve ler-se " onde foi que eu disse ". Desculpe o lapso António. :)

Matilde,

Fez bem em frisar "seus amigos". Tenho muitos e bons amigos entre os professores. E como tenho para mim que a coisa mais importante entre amigos é a lealdade, não posso deixar de lhes dizer claramente aquilo que penso. Como sabe por experiência própria é hábito antigo e irrevogável. ;)

José Luiz Sarmento disse...

O PISA faz parte da mesma política de classe que deu origem ao processo de Bolonha, que está a ser contestado, com inteira justiça, por toda a Europa. A OCDE é, como o BCE e o FMI, parte do problema; não procuremos nela soluções nem façamos dela um oráculo.

Manuel Rocha disse...

Luis Sarmento,

Absolutamente ! Mas então que essa reserva em relação à OCDE seja sempre válida e não só às vezes. Certo ?

Pessoalmente, como tenho dito sempre que oportuno, não gosto de comparativos internacionais. Deste, não lhe conheço sequer a ficha técnica. Não sei se é bom ou mau, nem isso me parece relevante. O meu ponto é pela solidez dos argumentos. Quando os argumentos são fracos, as primeiras vitimas são sempre os seus utilizadores. Ganha quem defende o pensamento único. O que é mau.

Saudações.

Anónimo disse...

Pois...eu confesso que tb me senti desconfortável. :(

Florbela

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Manuel, não posso falar pelos outros, mas no que me diz respeito as objecções à OCDE não são válidas só às vezes. Repare que nem sequer considero que seja uma associação de malfeitores: é apenas uma organização que tem uma agenda política e faz as suas avaliações em função dela. A única desonestidade está em apresentar conclusões políticas como se fossem técnicas, e consequentemente indiscutíveis.

Sabe do que me fez lembrar o entusiasmo de José Sócrates com o relatório? O enlevo de Almeida Santos com Vital Moreira: "Um Professor-Doutor de Coimbra, Santo Deus!"

Se este relatório tem valor para os professores, é este: fazê-los compreender que o campo de batalha já não se limita a Portugal mas tem que ser estendido a toda a Europa. Começam a ser necessárias acções coordenadas com professores doutros países, começando talvez pelos mais maltratados, que são os ingleses.

Mariana Capela disse...

Quem exige ser tratado com respeito tem de se dar ao respeito. Lamento constactar que os professores insistem em perder oportunidades precisosas para o fazer.

antonio ganhão disse...

Alfinetada em amigos? Sendo assim percebe-se.

Temos de reinventar a forma de sermos cidadãos e portugueses.

Manuel Rocha disse...

António,


A minha critica não se dirige aos amigos mas à classe.Vejo muito pouco quem dentro dela assuma sem rodeios a derrota de uma certa forma de fazer oposição, e se disponha a mudar de estratégia. Isso é pior para a melhoria do ensino que os resultados de todos os pisas que já se inventaram. É isto que eu penso, sem rodeios.

Luiz Sarmento,

Obviamente que qd larguei o " só às vezes" não me dirigia a si. Não tenho quaiquer razões para isso.Menos razões tenho para defender o PISA em concreto ou o Sócrates em concreto. Mas alguma coisa terá de ser feita para aferir o estado da arte, não acha ? De outro modo como se indentificariam os pontos fracos e em que base se apoiariam as politicas ? Se o PISA é mau ( dou de barato que possa sé-lo - não o conheço )onde estão as alternativas ? Era isto que eu gostava de ver discutido por quem melhor posicionado está para o efeito - os professores: dizer com clareza e objectividade pq é que o PISA não presta, e avançar com propostas sólidas e exequiveis. Oposições à la PSD no corte dos 500 M do OE, parecem-me tristes espectaculos. Isso e derivas à VPV, que depois de dizer que o PISA não presta argumenta que ainda que fosse bom "estamos muito atrás de muitos paises da Europa", são um insulto à inteligência das pessoas e deviam merecer o mais vivo repudio daqueles que têm obrigações acrescidas de ver um pouco mais longe que a média, i. é, os professores.

Anónimo disse...

Eu acho que houve e há professores que vão longe demais no modo como defendem as suas posições. Houve ataques a a MLR perfeitamente lamentáveis, e digo isto completamente à vontade pois não sou adepta das medidas que implementou. Mas muitas vezes me perguntei com que cara certos colegas exigiriam o respeito dos alunos quando assinavam coisas como as publicadas em certos blogs, como era o caso do " a sinistra ministra", onde o minimo era dizer que a criatura tinha cara de mulher a dias, o que do ponto de vista da responsabilidade social de um professor é perfeitamente inqualificável.
Sobre o PISA posso dizer que tive alguns alunos de uma turma que participaram mas nem os colegas nem o directivo tivemos qualquer papel na escolha. Julgo que o critério associava a ordem alfabetica dos nomes proprios e o mês de nascimento. Em relação a essa turma que eu tinmha na altura por acaso nenhum dos melhores alunos participou, mas como disse não me consta que os resultados escolares tenham servido de critério, pelo menos aqui.

Carla