domingo, 20 de janeiro de 2008

O Regresso às Hortas



Não existe em toda a montanha terra tão desgraçada e tão negra como Saudel! Aquilo não são casas, nem lá mora gente, são tocas, com bichos dentro!

Estou convencido de que a ideia que muitos ilustres urbanos fazem das aldeias e vilas do interior e da vida que lá se vive, não andará muito longe daquela descrição de Saudel que nos deixou o saudoso Torga. Claro que também poderiam recordar alguns contrapontos de brancuras caiadas do Alentejo Profundo por onde se demoraram as penas de Namora ou Fonseca. Mas é evidente que a primeira leitura tem um valor heurístico reforçado quando se trata de contrariar certas teses de repovoamento de um interioridade desertificada. Usa-se para caricaturar a ideia o magnifico epíteto irónico de “regresso às hortas”, e pensa-se em esgotos a drenar para as ruas, vacas a dormir por debaixo dos quartos, e coisas que tais, como se a ruralidade que se concebe fosse ainda o universo pasmado no tempo de que nos dá conta a literatura de meados do século passado.

Não é bem assim.

Desde logo porque não se regressa ao passado. E depois porque mesmo que esse regresso fosse possível, o homem que hoje regressasse não seria mais o mesmo que de lá saiu há 50 anos, mas um homem deste tempo. Ora o homem deste tempo leva consigo outras referências e como tal outra cultura, cuja deslocação no espaço só pode ter como resultado a remodelação do meio onde se iria exprimir, antes de o próprio meio a remodelar a ela e desse reencontro surgir uma ruralidade nova. Em boa parte isso já existe. Disso mesmo se poderia ter apercebido quem gosta de nos comparar com certos países do norte da Europa. Mas em Portugal nem tanto, porque como qualquer novo rico que se preze estamos ainda sob o efeito de um género de provincianismo invertido.

Admito no entanto, que seja mais do que isso. Ao hiato da história da nossa ruralidade, corresponde um hiato de linguagem, cuja especificidade rural carece de actualização e já não pode ser caracterizada segundo as premissas da sociologia rural de Hoyois, tão frequentes no discurso datado de António Barreto. Como percepcionamos o mundo pela forma como o dizemos e não temos linguagem para a ruralidade possível no nosso tempo, não a concebemos senão nas acepções mais ou menos lúdicas que derivam de um fim de semana em “turismo rural, onde se experienciam vivências entre o snob e o bacoco, interagindo sem nexo com o desconhecido, numa sólida convicção de que a vida é possível sem uma ligação à terra.

Deve ter sido esta falta de linguagem especifica que nos actualize perante uma nova ruralidade possível, que deixou sem argumentos um Padre amigo de um Blogger que muito prezo e que há dias me comentou que durante uma discussão em redor desta temática, o amigo começara por advogar o regresso às hortas como caminho do futuro mas acabara por o deixar cair perante a tese de que se trataria de um retrocesso histórico.

Se essa conversa tivesse ocorrido esta tarde e esse Senhor Padre me tivesse ligado para o telemóvel, além de lhe ter dito o que antes expus, teria interrompido a sementeira dos alhos ( que já ocorre com atraso, pois em Janeiro o alho quer-se ponteiro e eles que nem ainda bico- de- pardal…) e pedia-lhe para voltar a ligar dentro de 15 minutos. O suficiente para dar uma corrida a casa, aceder à net, sacar o link para dois ou três sites sobre as vantagens das economias da pequena escala, procurar nas prateleiras pelo menos a Convivencialidade do Illich e o Small is Beautifull do Schumaker, retirar-lhes as referências , passar no scanner uns artigos que por aí tenho sobre ordenamento rural na Europa do Norte, e enviar-lhe tudo por e.mail . Fosse caso disso, e na suposição de que a conversa decorria no Porto, até poderia entregar-lhos em mão pela hora do jantar e dar o meu contributo pessoal na argumentação ! Tudo isto apesar de viver paredes meias com uma aldeia do interior serrano algarvio, a 8 km de uma vila e a 20 de uma cidade, e onde há 30 anos habitavam 112 pessoas e hoje só restam três e meia ( o António Luis só conta por meia gente…)!

O caso é que quem circular por este deserto interior que ainda dá pelo nome de Portugal e que se distraia por momentos das linhas do novo modelo da BMW que vai à frente, talvez repare que não há casa abandonada que não tenha plantados à porta poste de madeira da PT e poste de betão da REN, bem como a estrada para lá chegar. Ou seja …há tudo, menos gente !

Mas não é dos montes ou das aldeias que quero falar . É das vilas e das cidades do interior onde também há tudo, menos gente. E diz-se que não há gente porque não há actividade económica. É verdade. Mas a explicação talvez seja outra. Nos dias que correm e com a tecnologia e os sistemas de comunicação disponíveis, o factor de localização de uma série de actividades passou a ser completamente irrelevante. Por isso mesmo há aqui dois anos, uma empresa internacional de pesquisa farmacêutica destituída dessa obsessão pela beira-mar que afecta a lusitanidade, resolveu instalar-se numa cidadezinha do interior Alentejano. Mas, contrariamente ao que pretendia, não conseguiu recrutar investigadores nacionais, desses mesmo que passam a vida a queixar-se de falta de empregos compatíveis em Portugal. Apesar de ter encarregue uma empresa de recursos humanos portuguesa do recrutamento, esta teve de recorrer ao mercado internacional, de onde logo surgiram os candidatos para as vagas que os nacionais recusavam quando sabiam onde seria o local de trabalho.

Portanto, não são apenas de ordenamento económico as razões da desertificação do interior português. Elas passam também pelas nossas opções de vida e de consumo. De consumo?! Sim, de consumo ! Porque no momento da compra de uma cebola, como de um par de sapatos ou de qualquer artigo de vestuário, não nos é relevante se foram produzidos em Portalegre ou em Pequim ! Mas logo a seguir acusa-se o governo que estiver de serviço por nada fazer pela economia do interior, quando no telejornal passa a noticia de mais uma têxtil fechada. Assim é de facto mais fácil , além de que dá imenso jeito para fundamentar a "impossibilidade histórica do regresso às hortas “! E por agora chega, que ainda tenho o resto dos alhos para semear ....

26 comentários:

antonio ganhão disse...

Só o nosso provincianismo ficou pasmado no tempo.

A sua escrita é raelmente muito boa. E eu sei que só escreve assim para me irritar.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mais um belo post.
Gostei especialmente da referência à linguagem e o modo como pensa "o regresso às hortas". Um estudo linguístico é sempre instrutivo.
A desertificação do interior é sempre um problema polémico.

Anónimo disse...

Excelente a companhia deste "regresso às hortas" nesta pausa para um café domingueiro.
Gostei particularmente da forma contudente como ilustra que não se trata de um regresso ao passado. E ficou-me a ideia de que terá mais para dizer em relação a esse conceito de uma outra forma de viver as/nas vilas e cidades. Próximo post ?

Matilde Costa

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

De facto, estive a pensar que deviamos analisar as concepções predominantes da "ruralidade" e confrontá-las com a "realidade", porque, como disse, há uma "ruralidade"-preconceito que já não corresponde à "realidade". Parece que agora há a concepção turistica e ecoturística que pouco adianta em termos de povoamento do "interior". Mas (reconheço) não sou especialista na matéria, até porque tb sou muito urbano. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Afinal, o ecoturismo pode ser visto como uma concepção "consumista" da natureza, não?

E. A. disse...

O meu irmão este ano tb se mudou para uma aldeia algarvia. :)
Não há gente e a pouca que há é muito pouco empreendedora, ou mesmo indolente, e nada criativa. Os estrangeiros residentes ainda são os que reinventam a ruralidade portuguesa, que apesar do "poste de madeira da PT, de betão da REN, bem como estrada" continua atrasada na mentalidade.
Por outro lado, "os novos ricos", isto é, o português-tipo não abandona a confortável urbe, pois as necessidades de consumo são imperativos que aldeias ou vilas remotas são incapazes de prover. E não sejamos líricos: são mesmo! :)

Tiago R Cardoso disse...

Pois eu estaria disposto a mudar-me para um local no interior onde fosse preciso 20 minutos para chegar à cidade mais próxima, se tivesse as mesmas comodidades que tenho onde estou.

Mentalidade normal em muita gente, acontece que se calhar essas comodidades existem no entanto se muitos fossem realmente postos perante isto e realmente pudessem escolher, rapidamente mudariam de assunto e assobiariam para o lado.

O meu próximo objectivo é "regressar ás hortas", claro que falo de voltar ao contacto com a natureza, acordar no meio do campo, apreciar aquilo de bom que temos, longe de tudo, claro que esta utopia se designa por turismo rural, algo que sempre me fascinou.

Enfim, não tendo possibilidades ao menos fico-me por uns dias...

Manuel Rocha disse...

António,

Não é para o irritar, é para que me siga o exemplo...::)))

( vocês outros que estão a ler isto não o façam à letra, sff...isto são apenas trocas de galhardetes entre o Bolinas e o Sem Penas...:::)))

Matilde,

Está combinado, tentarei aprofundar o tema !

Blue,

A questão que gostava que me respondesse é se essa di... di... di ...diiiicotomia convencionada rural / urbano ainda faz sentido ( e não se esqueça que para uma resposta fundamentada tem que se ter uma vivência experienciada do outro lado...:))

Papillon,

Não seja assim tão definitiva...:)
A satisfação de certas necessidades pode ser mera questão de organização de agenda, não acha ? Afinal, nesse aspecto, qual a diferença concreta? A vida numa metropole não está sujeita a uma agenda porventura ainda mais apertada e menos maleável ?

Tiago,

O "assobio para o lado" é timbre de uma certa forma de ser português, algo quase tão identitário como o santo fado...quando chega a hora da verdade uns assobiam, os outros chegam-se para o lado e no fim juntam-se de novo para cantar o fado...:)

Francisco,

Deixeio-o para o fim...:)
Absolutamente ! O "ecoturismo" é apenas uma variante das várias opções de lazer de uma certa urbanidade...:)
A outra questão é bastante mais pesada. De facto considero que o conceito de ruralidade que hoje existe está ultrapassado. Mero mito literário. A agricultura que existe é uma actividade empresarial como qualquer outra, e o resto são reminescências de outras formas de estar. E o velho dualismo rural/ urbano dilui-se na inevitável interpenetração que as redes e a velocidade dos transportes e das comunicações criaram. De tal forma que as vantagens que se argumentavam há ciquenta anos para defender a opção de vida "cidade" deixaram de fazer sentido quando a realidade cidade é "metrópole" e quando a ruralidade-isolamento não existe mais!

Alvorada disse...

Manuel Rocha,

Não fosse o seu final e não teria comentado. Limitar-me-ia a digerir sorrindo a sua escrita. Mas o final foi soberbo, pois daquela forma aparentemente despretenciosa de quem está com pressa de acabar de semear os seus alhos ( estaria mesmo ?), sublinha o que nos distingue, ou seja, que a sua ruralidade assumida não o inibe de discutir aqui questões de outra transcendência, enquanto nós, que só as discutimos, deixamos de ser capazes de semear um alho !
Ahahaha!
Brilhante subtileza para nos chamar de inaptos pouco diferenciados. Mas concedo que tem razão! E os comentários dos colegas anteriores sublinham isso mesmo. A dimensão da alienação da vida urbana está a atingir fronteiras complicadas...

Maria

E. A. disse...

A satisfação de certas necessidades pode ser mera questão de organização de agenda, não acha ?

Lamento, mas n acho. :)
Aliás, ainda sou mais radical (e não "definitiva", como predicou): a única cidade portuguesa que ainda consegue ser uma metrópole, ao contrário das outras que nem isso conseguem ser, é Lisboa, precisamente pela oferta de recursos que disponibiliza. Viver no campo, não é uma questão de reorganização, porque se assim fosse, as pessoas n teriam receio de migrar, mas há uma diferença qualitativa. A agenda na cidade está mais apertada, mas traz mais possibilidades, e o ser humano joga-se precisamente no seu poder-ser, em que a urbe pela sua natureza variada, pela sua fauna diversificada, amplifica.

Manuel Rocha disse...

Maria,

Descobriu-me a "careca"...:)

Papillon,

Vejamos: a que distância ( tempo) está Bragança de Lisboa ou de Madrid ?
Objectivamente o que impede quatro ou cinco amigos bragantinos que aí vivam e trabalham de se organizarem para uma visita ao Centro de Arte Moderna Rainha Sofia, umas tapas e umas caña nas esplanadas das Portas do Sol, uma noite na Ópera, dormida económica num hostal, e regresso tranquilo a horas de retomar o labor rotineiro na segunda-feira ?!
É para esta diluição das distâncias ( tempo ) que chamo a atenção, porque o isolamento geográfico era um dos critérios definidores de ruralidade e deixou de o ser.
De resto, como sabe, proliferam por todo o lado ( e por cá também já se notam ) iniciativas culturais de vanguarda que escolhem como palco territórios não convencionais...:)
Repare que por principio nada tenho contra o conceito de cidade-metropole, excepto o facto de ser um sorvedouro de energia, que requer sempre e cada vez mais energia para resolver os problemas de qualidade de vida que os seus habitantes justamente . Só que essas questões são insolúveis, pois o problema é do conceito-escala...:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Lisboa-metrópole só consegue disponibilizar esses recursos à custa da pilhagem do resto do país, sobretudo do Norte!
Mas penso que a metrópole portuguesa situa-se ao longo do litoral a ver a oceano. Erros foram cometidos por causa de manter a tal Lisboa da Papillon!

Alvorada disse...

Compreendo e simpatizo com o ponto de vista da Papillon. Mas concordo com o Manuel e o Francisco. De resto o grande paradigma da prosperidade do modelo Europeu ( Dinamarca, Suécia, Noruega, Filândia ) nem sequer têm metrópoles ( fica-me a dúvida se Estocolmo terá mais de um milhão...) mas aparentemente isso não dificulta nem a qualidade nem a quantidade nem a afluência às realizações culturais, muito mais descentralizadas, e que por isso mesmo muito contribuem para a definição de um noção transversal de elevado conforto. Poderá estar nesse justo equilibrio, parte da solução para os impactos ( ia escrever problemas mas emendei a mão...) ambientais de que nos queixamos.

Maria

E. A. disse...

De facto, a metrópole é um vórtice sugador de energia, como diz o Manuel e o Francisco.
No entanto, o argumento do Manuel é insuficiente, como, aliás, saberá melhor que eu. Essa relatividade de distâncias, existindo, induz ao erro, pois os acessos não são bons, nas auto-estradas as portagens pagam-se caro, e passar todos os fins-de-semana a Madrid ou Lx, só mesmo alguns senhores feudais do interior (e isto, claro, partindo do pressuposto que todos têm carro!) - não é a realidade, portanto.
Dito isto e fazendo referência ao comentário da Maria: n é preciso pegar nesse paradigma que nos é distante. Aqui ao lado, em Espanha, as suas cidades oferecem muito melhores condições, não sendo as mesmas metrópoles. Por isso, enquanto continuar em Portugal, fico por Lisboa. :)

Alvorada disse...

Entendo-a, Papillon, quanto mais não fosse por esta luz que é inigualável ( risos ).
Por sinal conheço mal Espanha. Nunca me seduziu (possível trauma pelas histórias de familia que falam de um avô fusilado em Toledo por altura da guerra civil...).
Mas quanto à nossa Lisboa-cidade, repare como também ela tem sofrido pela diluição na Lisboa-metrópole...os bairros desabitados, desertos urbanos de fim de semana, o caos dos carros à semana, enfim, razões de peso para me sentir tentada a concordar que haverá por aqui os tais impactos de escala de que fala o Manuel, por problemas de atitude( disse bem, Manuel ?).Afinal há também quem afirme que não aprecia a vida nestas rotinas citadinas mas a elas esteja condicionado, não é ?

Manuel Rocha disse...

Olha que animação!!!

Enquanto a Maria e a Papillon fazem campanha por Lisboa, a Blue riu tanto com a di...diiicotomia, que não reparou que logo à frente estava escrito "convencionada" e lá foi escrevendo razões para o meu ponto...::)) Isto antes de se atirar ao Francisco com a inevitabilidade das "macrocefalias" e a tese( muito estafadinha...) das sinergias centralizadoras...mas como essa não foi comigo...:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

BlueGift

Eu não disse que no Norte se trabalha e no Sul se descansa, embora a cidade do Porto tenha a iniciativa gravada em muitos edifícios, que nos contam uma história interessante, em termos de Portugal.
Mas Lisboa, devido a muitos factores, cresceu à custa das outras regiões e penso que ainda existem taxas que o mostram.
Eu prefiro um país com melhores condições de vida em pequenas e médias cidades. Metrópoles bastam duas: Lisboa, a capital, e o Porto. E a vida nestas cidades não é assim tão boa. Aqui a poluição é terrível: o pó é negro...
Quanto a Espanha, tem cidades interiores muito vivas e com ritmos diferentes dos nossos. Aqui no Porto o Rui Rio está a conseguir animar a baixa, embora já com dois grandes centros comerciais, mais o Bolhão, +++ ao contrário do que pensa a Borboleta, o Porto atraí muitos estrangeiros. E o Porto tem capital, mas misturado com a capital! Imagino cidades sem capital a negociar com Lisboa! Nada... Mereciamos outra qualidade de vida! E um país menos corrupto onde o capital circula em circuito-fechado! A nossa realidade...

Anónimo disse...

Um texto com ideias força importantes e inovadoras.
1. Não há regresso à ruralidade.
2. O modelo "macrocéfalo" é autista e esgotante.
3. Há um paradigma de território a repensar e construir.
Pena que os comentários tenham depois divergido de um primeiro tópico acutilante:" só o nosso provincianismo não pasmou". Pensar o território e o futuro é obrigação de cada um e de todos. Para tal vistas largas são precisas. Algo mais que a medida exacta do interesse pessoal imediato e autista.

Cumprimentos.

Trigo Pereira

Anónimo disse...

Reabro para duplo sublinhado sobre questão recorrente neste espaço, infelizmente ( e disso me penitencio também) indevidamente explorada nas discussões: o enorme poder ( o grande poder que nos resta, em rigor ) de que individualmente dispomos como consumidores.

Trigo Pereira

Mariano Feio disse...

Amigo Manuel Rocha, permita-me a familiaridade no trato, para lhe dizer que a sua menção aos alhos me remeteu para as tibornas dos dias em que se cozia o pão no forno a lenha lá de casa. Mas tem razão. Se eu regressar, e tenciono, não sou o mesmo Mariano que de lá saiu há 41 anos para furar outras vidas na capital. Nem o Redondo é o mesmo. Não há pois regresso. Há sim outras vidas para se organizarem. E nem sombras das dificuldades que se faziam sentir.Hoje a pobreza é outra - a da alma!

Mariano

quintarantino disse...

Manuel, excepcional... como sempre.
Sabe, no entanto, que os "trolls" urbanos têm uma ideia romântica do campo... eu que o diga que, nado e criado na cidade, tendo agora direito a viver num tugúrio que nem é campo, nem cidade me canso ao fim de cinco minutos de pegar na enxada lá na horta da sogra!

Manuel Rocha disse...

Blue,

Tratarei essa não di..di...diiicotomia ...com mais espaço num próximo post.

Trigo Pereira,

De facto as opções de consumo são um "território agreste" para estes debates - há uma recorrente preferência por contorná-lo, mas não faço ideia porque será...::))

Mariano,

Gostei da "pobreza de alma". Não sei porquê li escondido dentro dessa sua frase algo do género de "ausência de memória". Engano-me ?

Quin,

Obrigado. Este texto devo-lhe a si porque foi um comentário seu de há dias que o inspirou.Quanto à enxada, eu tentei dizer que não tem de passar por aí...mas se tiver olhe que com a prática o cansaço se dilui - e sempre poupa na conta do ginásio...::))

el.sa disse...

Manuel,

Eu nasci na aldeia, com o café mais próximo a 1km de distância, o supermercado a 3km e a 15km de uma pequena cidade. Agora vivo na "metrópole" porque foi o único local onde me ofereceram emprego.
Se me perguntassem de qual gosto mais, eu diria: e tu, de qual das tuas pernas gostas mais? de qual abdicarias?
Não sei se há "dicotomia", mas tenho certeza que há complementaridade.

Beijinhos complementados***

Manuel Rocha disse...

Feitixeira,

Entre aldeias, vilas e cidades, claro que há complementaridade. Entre aldeias e metrópoles, duvido...aliás...é só olhar em redor...:)

el.sa disse...

Manuel,

A complementaridade existe. Acho que cada vez mais. Eu acredito que o exodo urbano está para breve ;)
As mentalidades mudam mais devagar que os acessos, mas mudam.
Constrói-se mais depressa uma estrada do que se altera uma perspectiva da realidade, mas chegaremos lá.
Tal como nas plantações, é preciso regar, lançar um pouco de luz e esperar.
Podem não nascer todas, nem todas ao mesmo ritmo, mas as sementes da mudança acabam sempre por dar frutos!

Sejamos activos, mas optimistas!

Beijinhos semeados***

Unknown disse...

Por vezes não depende só de nós. Para um mudar, é preciso mudar um agregado familiar. É preciso, pelo menos, que dois consigam oportunidade na mesma vila, ou pequena cidade.

E o teletrabalho. Também é possível, é verdade. Desde que tenhamos perfil para isso. Trabalhar em casa não é para todos. Há um grooming social, os almoços com os colegas, que eu não dispenso e que não são a mesma coisa por messenger.

Agora, conseguindo a rotina trabalho-casa, fora da metropole, nao tenho duvida que me mudaria.

Começa a ser possível "a casa no campo com porta de serviço para o Chiado". Era o Eça que dizia isto, se me lembro bem.