terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Los alimentos viajeros


Aqui há uns tempos li algures um excelente artigo sobre géneros alimentares aditivados, tipo leite com cálcio extra, pastilha elástica com vitaminas, e outros que tais. Infelizmente esqueci-me do nome da nutricionista que o assinava. Mas retive que não os recomendava, aconselhando em seu lugar o recurso a uma alimentação variada e a produtos de época.

Na altura questionei-me se ainda se saberia o que era isso. E aqui há dias num grupo de universitários deixei cair essa questão. Perante um leque de frutos e legumes que ia das peras aos tomates e das maçãs ao feijão verde, a opinião foi consensual: eram todos produtos de época!

Confirmaram-se pois as minhas piores suspeitas. Ser de época passou a ser sinónimo de ser “fresco”, e “fresco ” é qualquer produto alimentar não congelado ou previamente submetido a qualquer outra técnica de conservação óbvia. Nesta peculiar acepção, as peras ou as maçãs produzidas no verão e conservadas com frio e fungicidas para serem consumidas o ano inteiro, são tão “frescas” como os tomates ou o feijão verde produzidos em estufa em Janeiro. E estes, não só são frescos como são “ de época” em qualquer altura, tal como são de época são os figos frescos vindos no avião da véspera desde o Brasil.

Vale a pena clarificar isto ?

Acho que sim.

A generalidade dos produtos de origem vegetal tem um ciclo de vida e uma período de maturação que dependem do clima e em particular da temperatura. Nos climas tropicais, em que as temperaturas têm reduzidas variações ao longo do ano, algumas plantas, sobretudo as anuais, podem não ter um período de maturação definido ou até ter vários. Mas nos climas temperados com estações bem marcadas, como é o caso do nosso, a generalidade dos frutos, por exemplo, apenas amadurece entre finais da Primavera e finais do Verão. Por isso a época das uvas entre nós é em Julho/ Agosto. Mas na África do Sul, com um clima semelhante, vai ser agora pois o Verão deles começa em Dezembro.

Vai daqui que as uvas da África do Sul que já vão aparecendo nos nossos mercados são de facto de época. Mas da “época” deles.

Algo diferente se passa com o tomate fresco que se consome agora. A época do tomate também é o Verão, por isso os que se produzem neste momento no país só podem ser de estufa e não são de época.

É graças à técnica agrícola de forçagem em estufa, que consumimos tomate fresco fora de época . E podemos também agradecer à eficiência dos sistemas de transportes de refrigerados podermos aceder em Janeiro às uvas colhidas uma semana antes nas vinhas sul africanas. Mas o que é que nos permite forçar culturas a produzir fora de época, ter frutos conservados em refrigeração desde a sua época, ou ainda importar frutos frescos de épocas antípodas ?

Coisa simples: o petróleo!

E qual é o problema ?!

4 comentários:

antonio ganhão disse...

Não percebi.

Quer dizer que depois do Aloé Vera, temos agora o petróleo.

Então o meu amigo propõe o recurso a estufas, piscicultura, aviários e até propõe um slogan: “oil free”… para este conceito de produtos amigos do ambiente, porque são produzidos em ambiente forçado… interessante. E eu que tinha problemas de consciência por comer douradas produzidas em pisciculturas!

Amigo Manuel, obrigado por me ter libertado!

Agora não percebi como ainda não foi comentar no meu blog!

Anónimo disse...

Como custumam dizer os mais velhos: "Isto já não é como nada como era antes"...

quintarantino disse...

... ora, eu como meio "boer" desde já aqui declaro o meu gosto pelas ditas cujas uvas sul-africanas, mais uns tintos que eles têm e que me vejo e desejo para arranjar ... o que interessa é que haja bom senso ao comer e não "enfardar", coisa muito comum nos dias que correm ...

Mariano Feio disse...

Então o problema é que com o petróleo temos andado a viver numa ilusão de herdeiros ricos, que não querem saber do que possa respeitar a quem vier a seguir nem com quem vive ao lado, mesmo quando ao lado apenas se sobrevive, e mesmo que quem apenas sobrevive o faça sobre as jazidas que nós exploramos.