quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Cash-crop

Quando a dose diária de corn-flakes chega à nossa mesa do pequeno almoço para nos fornecer 10 % da energia que o nosso metabolismo irá gastar durante o dia, ainda estamos a acabar de acordar ou a pensar no que vamos fazer à tarde. Por isso é normal que não se comece a ler os rótulos, ou a apreciar a embalagem. Se o fizéssemos seria fácil constatar que estamos a consumir milho produzido na América do Norte, transformado em Itália, embalado em França com caixas produzidas na China, ou que o leite foi ordenhado em Odemira antes de seguir viagem para Vagos, para ser embalado em pacotes fabricados na Polónia, antes de regressar a Odemira para ser consumido.

Contas feitas, estas voltas e reviravoltas de los alimentos viajeros levam a um resultado bem simples: a quantidade de energia que se gasta no transporte, embalagem, distribuição e logística, apenas do que é imputável aos corn flakes do pequeno almoço, é superior à necessidade de energia diária de um adulto normal.

Um Senhor que dá pelo nome de David Pimentel, português e há anos radicado nos EUA, onde ainda labuta em Cornell, resolveu há tempos aplicar um método de análise inovador às performances do Ocidente no aprovisionamento das suas necessidades alimentares.

Os resultados que obteve resumem-se assim: se em lugar de euros ou dólares a alimentação nos custasse calorias, há muito que tínhamos aberto falência. Porquê ? Porque desde as técnicas que utilizamos para os produzir, ao que fazemos para os utilizar, passando, claro, pelo que se faz para os comercializar, gastamos uma quantidade muito maior de energia do que aquela que esses alimentos efectivamente nos fornecem.

A lógica do sistema económico que tem prevalecido tem sido a de que o valor de todas as coisas se mede em cifrões. Consequentemente a rentabilidade do que se produz para nos alimentarmos mede-se em balanço contabilístico. A esta dinâmica da agricultura houve quem chamasse de cash-crop, e é um desastre como critério de gestão de recursos.

É um desastre porque as fontes da energia investidas na cadeia alimentar não são renováveis e basicamente, o Ocidente tem-se comportado na gestão dos recursos energéticos a que tem tido acesso, como um rico herdeiro que resolve desbaratar a fortuna que herdou numa existência de play-boy.

Quando se chega a este ponto aparece sempre quem culpe uma multinacional ou um governo qualquer . Mas a verdade é que se esta dinâmica existe e se mantêm, isso se deve às nossas opções individuais enquanto consumidores.

Explico-me.

Quando em vez de se fazer o iogurte em casa se compra no supermercado o conjunto de quatro embalagens de plástico envolvidas no respectivo painel promocional de papel panfletário das virtudes da marca, a atitude subsequente ao consumo de separar para reciclar é correcta mas tardia, porque no acto da compra já se alimentou uma lógica que é ela própria a definição de insustentabilidade.
A noção de sustentabilidade ( que os primeiros ecologistas, como Odum, chamaram de “perenidade” ) tem antes de tudo a ver com a forma como um sistema gere a energia que necessita para se manter em funcionamento. E não há reciclagem nem bio-combustagem que nos valham se todos os dias consumimos muito mais energia do que aquela que somos capazes de obter e armazenar de forma renovável.

Voltando ao exemplo do iogurte, repare-se que a origem da ideia de pegar em leite fresco e o transformar em iogurte, manteiga, queijo fresco, queijo curado, não tem nada a ver com introduzir o critério de “variedade” na dieta alimentar. São lacticínios e ponto final. Essa ideia é , isso sim, uma estratégia de prolongar a vida útil de um produto – o leite – que por natureza a tem curta. Repare-se: depois de ordenhado da vaca, quando metemos o leite no frigorifico para o conservar, já estamos a fazer batota. Sem frigorifico pode nem sequer durar 24 horas. Mas como iogurte ou requeijão pode durar três dias. E como queijo curado pode durar um ano. Tudo isto sem que no processo se introduza mais energia que aquela que despendemos em confeccionar o queijo e que de qualquer modo recuperaremos quando o consumirmos.
A mesma lógica se aplica aos "produtos de época" importados da Nova Zelândia ou produzidos nas estufas de Almeria, cujo custo energético é algo de obsceno !

Muitos dos problemas económicos, sociais e de governação com os quais barafustamos todos os dias, têm na sua origem coisas tão simples como o gesto de meter no carrinho de compras do hipermercado as embalagens quadruplas de iogurtes de longa vida garantida por inevitáveis cargas de antibióticos, ou figos frescos importados por via aérea desde o Brasil em contentores refrigerados. Nuns casos faz-se isso por desconhecimento. Mas noutros faz-se pela mesmíssima razão que nos leva a fazer muitas outras coisas: comodismo !

28 comentários:

alf disse...

Esta perspectiva é interessante.

No entanto, parece-me que se misturam aqui alhos com bugalhos.

É que as calorias não são todas iguais! Nós não conseguimos comer petróleo!

A capacidade de gerar recursos alimentares para a população existente é fundamental, é essa a diferença entre "céu" e "inferno".

O Império romano, como outros anteriores, estabeleceu-se exactamente porque os romanos eram capazes de gerar recursos capazes de alimentar uma população superior à existente.

Sem isso, vive-se num quadro de sobrepopulação, ou seja, um quadro onde para eu viver tenho de matar alguém porque a comida não chega para todos.

Para conseguir isso, os romanos fizeram muitas coisas, como desenvolver técnicas de conservação e transporte de alimentos.

Ao pé dos custos do transporte de alimentos no tempo dos romanos, esse em calorias alimentares porque iam de carroça, transportar alimentos da África do Sul para aqui sai quase de borla...

Mas entendo a preocupação subjacente: o desperdício absurdo de recursos. Por exemplo, andam para aí à venda umas (horrorosas) cerejas do Chile a 20 euros o quilo.

Bom, mas na realidade o desperdício está por todo o lado, é uma atitude das pessoas, desperdiçar dará a sensação de se ser rico, sensação ilusória pois claro, pois desperdiçar é coisa que quem ambiciona ser rico não faz...

antonio ganhão disse...

Esta é uma ecologia que cruza o respeito pelo meio ambiente com uma certa postura ética. Resulta isto numa espécie de moralismo?

O ponto de vista é interessante, mas é importante que o autor se digne a responder aos seus leitores…

Agora, Manuel, está-lhe a fazer bem ler-me!

quintarantino disse...

... ó meu caro Manuel, assim, sem mais? nem um bocadinho de tolerância ante a liberdade de escolha ante a constelação de iogurtes que existem nas prateleiras lá do hiper ou do super? é que, eu, citadino, se tiver de andar a comprar leite e gastar luz que, á custa dos cabos enterrados, garante o Penedos, aquele com ar de canastrão, vai ter cá uns aumentos que upa, upa, não ganho para as contas ao fim do mês... eu percebo a lógica e compreendo a argumentação, mas insisto, nem um iogutezito? safa... ontem eram as uvitas, hoje os iogurtes ...

Manuel Rocha disse...

Claro que as calorias não são todas iguais, Alf !

Mas quando os recursos alimentares são gerados ou transportados na base da mão de obra e da tracção animal, esses dispêndios de energia são renováveis.

A agricultura industrial e o transporte industrial, não.

Para “encher” o reservatório de alimentos, esvazia irreversivelmente o de petróleo.

Mas o caso não se fica por aí, e é para isso que tentava chamar a atenção.

É que nesse processo a grande maioria dos dispêndios de energia são perfeitamente supérfluos, como é o caso de transportes a longas distancias de bens alimentares de luxo, sejam as uvas ou os figos frescos.

Aqui iríamos para a questão da ética que o António refere e que é central quando se pretende falar de estratégias de desenvolvimento e de sustentabilidade. Porque sem ética neste domínio a equidade de que tanta gente gosta de falar quando acorda para o lado esquerdo será sempre o que tem sido: mera utopia!

Interessante que se tenha lembrado dos Romanos, Alf. Eles fizeram o que refere, mas fizeram muito mais: instituíram princípios de ordenamento do espaço e de utilização do solo que perduraram até ao século XX. Ou seja, sustentáveis, e com dois mil anos de garantia. E a prosperidade histórica das civilizações da bacia do Mediterrâneo que lhes está associada, deve muito a um factor normalmente esquecido, que é o clima quente e seco de Verão. Sem ele a conservação por secagem de alimentos básicos como os cereais não aconteceria. Repare que presentemente os grandes produtores de cereais do Mundo, desde os Estados Unidos ao Canadá ou à Rússia, não secam um grão ao sol. Passa tudo por secadores industriais alimentados a…FUEL !

A questão, Quint, é que por vezes nos distraímos tanto com os Varas que andam por aí que nos esquecemos que o petróleo já chegou aos 100 dólares o barril e que não há nada no nosso modo de vida que não esteja dele dependente!

Anónimo disse...

Já tenho lido algumas notas sobre este assunto. E compreendo o ponto de vista, pois a noção de custo que temos está mais associada a dificuldade do que a um dispêndio de energia. E aceito sem relutância a critica de que como consumidores somos completamente acriticos e desinformados nestes importantes aspectos, dos quais temos conhecimentos genérios e pouco fundamentados, como de resto se nota nestes comentários onde incluo o meu.
Tenho reparado que neste blog se aborda de forma recorrente esta questão, da responsabilidade de cada um no processo social. E reparo também que por norma é nesses tópicos que o feed-back é mais timido. Tipico. Não é fácil para ninguém questionar-se e confrontar-se. Menos fácil ainda sermos conduzidos a isso. Mas essa é a razão pela qual gosto de discretamente passar por aqui.
Se deixo esta nota é no sentido de lhe dar noticia de que há quem o leia em silêncio e use o que escreve para refelectir no percurso de regresso a casa. Faça pois favor de continuar.

antonio ganhão disse...

Concordo com a linha de raciocínio até à conclusão de que estamos dependentes do petróleo.

Não existe qualquer dependência energética do petróleo. A energia nuclear e o hidrogénio substituem facilmente o petróleo.

O que existe é uma dependência fiscal do petróleo. O hidrogénio para chegar ao sector dos transportes ao preço do petróleo, implicaria uma significativa redução das receitas fiscais, que os governos europeus, mais do que qualquer outro, não podem suportar.

Não me falem em dependências energéticas do petróleo!

Anónimo disse...

No sentido em que não respeita nehuma das regras estabelecidas para "bem-pensar", a sua escrita é, toda ela, claramente iconoclasta.
Segui a sua dica sobre Pimentel, e verifico que afinal não é só a sua. Percebo por que diapasão a afina e espanta-me como tenho vivido alheia deste registo.
No caso destes dois ultimos textos, diga-me por favor se o li
bem: ao abandonarmos as tecnicas ancestrais de uso e conservação de alimentos, introduzimos na cadeia alimentar uma fonte de energia artificial que a condiciona culturalmente e que ao mesmo tempo nos torna socilamente dependentes e sensiveis. É isto ?
Antes de escrever isto, regressada de umas mini-férias, tinha aberto a porta do meu frigorifico. Lá dentro tenho desde há cinco dias, meio pacote de leite, duas cenouras, um pacote de manteiga e meia garrafa de um branco que já não vou beber. E o frigorificao ligado 24 horas por dia. É caso para ter que lhe dar razão!

Matilde Costa

Manuel Rocha disse...

António, António... essa ingenuidade !!!

Hidrogénio ?!

Trocar energia por energia ? Faça lá aí umas pequisas para ver qual é o custo energético dessa solução.

Não se esqueça que foi o aumento do preço do petróleo que tornou interessante financeiramente a aposta nos biocombustiveis. Não foi a sua mais valia energética, pois alguns deles até registam balanços negativos, i.é, gasta-se mais energia a produzir um litro de etanol do que a que se obtém ao queimá-lo!O hidrógénio segue a mesma tendência.

Procure aquele David Pimentel e leia as coisas que ele tem produzido.

Não haverá boas soluções de aprovisionamento de nergia enquanto o padrão de consumo for este que conhecemos.

Tem toda a razão sobre os impostos indirectos, mas olhe que se amanhã os transferirem para a tarifa eléctrica, passado um par de anos já ninguém dá por isso e o problema de fundo mantêm-se: para o actual panorama de consumo, não existem boas soluções de aprovisionamento energético.

Matilde:

Foi mesmo isso que pretendi demonstrar.

Blondewithaphd disse...

I'm sorry for dropping by. Got curious somewhere else...
Surprised (positively) to see someone writing about something very debated in other (developed) countries and quite forgotten in Portugal.

antonio ganhão disse...

Se trocarmos energia nuclear por hidrogénio, ou um qualquer primo deste... a solução é perfeitamente viável.

Os bio-conbustíveis são adicionados aos combustíveis tradicionais à tradicional taxa de imposto.

Tudo se resume a um problema fiscal e quem não vê isso desse ponto de vista talvez seja o maior ingénuo de todos...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Adicionei-o. Assim podemos manter o contacto. Obrigado pelos seus comentários.
Abraço e Bom Ano Novo

quintarantino disse...

... nada disso, caro Manuel... nada disso... cada macaco no seu galho, com o devido respeito, claro está... o amigo com o petróleo a USD 100... e eu com os Varas ... não é por nada, os Varas deste mundo se deixados à solta são tão perigosos como um barril de petróleo à solta e em roda livre ...

el.sa disse...

Manuel,
Interessante texto, tanto na redacção, como no conteúdo abordado.
Li atentamente os pertinentes comentários e concordo contigo. Por isso, recomendo o uso das calorias humanas... são recicláveis, fáceis de repor e o seu uso promove a saúde física e financeira.
O problema é que é uma chatice levantar o rabinho do sofá...
Beijinhos calóricos***

Patrícia Grade disse...

Manuel,
Não consegui resistir e lá vou ter de comentar.
Há por aqui um anónimo que lança o alerta sobre a responsabilidade social de cada um de nós estar a passar despercebida. estou com ele ou ela (que nisto de comentários inteligentes as mulheres também sabem dar cartas!).
Diz também que há quem passe discretamente por aqui e não comente, mas use os posts para reflectir no regresso a casa. Faço minhas as suas palavras. (é que isto de fazer comentários inteligentes cansa muito e gasta-se muitas calorias no processo...)
Gostei da exposição. Reflecti e cheguei à conclusão que isto é o que eu tenho andado a dizer a toda a gente, mas de forma muito menos inteligente! Talvez por isso não consiga convencer ninguém!
Assim como assim, acho realmente que nos dias que correm, estando tão normalizado o uso dos bens de primeira necessidade vindos de todas as partes do mundo, já ninguém repara nos gastos que isso acarreta. Digo mais, se formos perguntar a qualquer pessoa se faz uma pequena ideia de onde vem os alimentos que consome, ela dirá que não faz a mais "pálida" ideia e pior que isso, nem sequer quer saber!
Na verdade, caro colega bloguista, vivemos épocas de grande inconsciência social, mais do que irresponsabilidade. Ignorância, desconhecimento, falta de interesse. São estes os elementos que compõem o estado de espírito dos povos de hoje.

Quanto a mim posso dizer o seguinte. Também sou menina da cidade. Também já tive esses problemas e não posso dizer sinceramente que não sofra já completamente deste flagelo que é o consumismo puro e duro. Mas uma coisa posso afiançar. Ninguém me consegue fazer engolir um alimento fora da sua época natural. Depois de provar uma laranja do algarve ou um figo saido da árvore, um tomate acabado de colher ou uma sardinha saida das mãos do pescador... Nã, não consigo engolir outra coisa.
Chamame-me esquisita... quero lá saber. É que eu só deixo entrar no meu templo, deuses de primeira qualidade!

Tiago R Cardoso disse...

Eu comentar até comento posso é dizer algum disparate, dada a presença de tão grandes analistas...

Tudo muito bom, gastamos "calorias" a mais, sim senhor, demasiados recursos na transformação de algo que podia ser assimilado de forma simples.

Mas somos assim, que piada tem , no caso do exemplo que deu, um simples copo de leite ?

Eu tento vender um ao meu filho de dois anos e ele por instinto não quer, pego em queijo que significa o mesmo copo de leite e ele já come.

Nós gostamos é de coisas complexas, mesmo que tenhamos de gastar o dobro, alem disso dão mais sabor...

antonio ganhão disse...

"É que eu só deixo entrar no meu templo, deuses de primeira qualidade!"

Obrigado Indy por teres aberto uma excepção comigo...

Manuel, cortei aquela coisa um bocadinho, vai lá ver e diz-me qualquer coisa...

Patrícia Grade disse...

Antonio,
Quando falava do meu templo referia-me de facto ao meu corpo. Mas no que diz respeito ao cérebro (que está naturalmente dentro do corpo) pouco há a fazer quanto ao que deixamos entrar... todos os dias somos abalroados por todo o tipo de porcarias que nos entram pelo cérebro adentro e que não conseguimos evitar. assim sendo e não desfazendo, pouca palavra tenho a dizer sobre o que me entra pelo cérebro adentro, apesar de estar no interior do templo.
Ainda assim, foste das melhores incursões cerebrais do último ano e com isto não estou a ser lamechas nem a tentar obter favores de qualquer ordem...
Passaste na filtragem, é só isso... mas por uma unha negra... por uma unha negra!

Mariano Feio disse...

Gosto de fazer os trabalhos de casa antes de comentar.
Particularmente no caso das duas últimas postagens porque o tema me era desconhecido.
Eis o que concluo de um exemplo que me pareceu revelador. Sendo nós omnívoros e por isso com capacidade de tirar directamente partido de alimentos como os cereais, preferimos usá-los para a criação de porcos e de frangos. Com a brincadeira o potencial alimentar da bifana que nos chega à mesa perdeu directamente 36 % do seu valor energético!!!
Aos colegas comentadores que argumentam no sentido de que é bom comer uma bifana, digo já que concordo. Mas ao que entendi do que pesquisei, nem todas as bifanas transportam consigo esta carga de irracionalidade energética. São exemplos as produzidas ao ar livre nos montados com pastagem e bolota. E além disso não acarretam os problemas de poluição das suiniculturas ou aviários industriais. Serão é naturalmente mais caras e por isso obrigarão a um uso mais racional que nada tem a ver com a alimentação do desperdício e do luxo que se pratica.
Isto foi o que aprendi. E assim sou forçado a concluir que andamos demasiado alienados do que realmente importa, mesmo quando nos supomos bem informados.

antonio ganhão disse...
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antonio ganhão disse...
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Mariano Feio disse...

Amigo António ( permita que o trate assim ):

Tem razão numa coisa a meu respeito: sou grande fundamentalista do meu comodismo. Noutra coisa não tem razão nenhuma: não consigo trocar chilreados de pássaros pelo ruido dos carros, portanto de eremita não tenho nada.
Mas por vezes gosto de sair da minha pele de confortável reformado e tentar olhar para o mundo pelos olhos da pessoa que gostaria de ser ou de ter sido. E é nesses dias que sem dar as mãos às palmatoadas não posso de deixar de dar razão a quem a tem. E esta questão aqui trazida por alguém que não apenas sabe o que diz como sabe dizé-lo, é demasiado pertinente para não nos levarmos por um instante a sério e reconhecer que construimos um mundo de coisas superfloas e perfeitamente desnecessárias que trazem-nos mais problemas que beneficios.

antonio ganhão disse...
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Anónimo disse...

Abandono a habitual reserva do leitor de ocasião, para meter estopa em forma de protesto pelos comentários que nada acrescentam ao debate, que trazem para um espaço que deveria ser de ideias abordagens brejeiras, de uma intimidade que terá melhor lugar nas caixas de correio electrónico ou nos espaços respectivos mas que não os alheios . Se isso a mim me incomoda como leitor, deduzo que para quem aqui venha para partilhar connosco os seus conhecimentos, não deva ser encorajador. Afinal estamos em “espaço público”, não é verdade ? Fica pois a sugestão de alguma contenção e a esperança de não ser mal interpretado.
Muito obrigado.

Trigo Pereira

antonio ganhão disse...

Mensagem recebida.

Anónimo disse...

Chamou-me a atenção o comentário que afirma em sublinhado peremptório não haver dependência energética do petróleo.
Abro a página do relatório do EUROSTAT para a energia em 2007, e aí leio que 78 % da energia consumida na Europa a 25 foi de origem fóssil e desta 50% foi petróleo. O Nuclear representou 15 %. Se quando aí há tempos o Senhor Barros falou da opção nuclear ia vindo a casa abaixo, faça-se ideia o que seria para a fazer substituir as fontes fósseis. Se isto não é dependência, não sei o que será.

Desculpem-me.

Helder Rito

antonio ganhão disse...

Hélder, se eu fosse estadista, invocaria essa condição, sendo assim recorro a Thabo Mbeki, que afirmou que não ser o vírus do HIV quem provocava a SIDA, mas sim a pobreza e que essa é que devia ser a sua prioridade.

O “mundo” precipitou-se em condenar a visão idiota de Mbeki. Mas Mbeki, teve uma visão de estadista: ver o óbvio. A SIDA ataca de forma esmagadora a população mais pobre. Não existe prevenção ou profilaxia que resulte. Dando um salto de raciocínio pode-se concluir que a cada rand posto no combate à pobreza, combate igualmente de forma eficaz a SIDA.

Por isso, encontremos uma alternativa fiscal efectiva ao petróleo e vai ver que os números que citou mudam radicalmente.

http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/1556715.stm

Manuel Rocha disse...
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Anónimo disse...

A alternativa a não gastar energia para ter os produtos na mesa seria não os ter. Não tem lógica um lisboeta ir ao Oeste buscar batatas e de seguida ir matar um proco preto ao Alentejo. Só o desperdício de calorias em andar a pé...

Quanto à questão da insustentabilidade energética não é líquido que exista. A energia basicamente vem do Sol, a maior parte é perdida naturalmente (radiação, reflexão), parte foi acumulada durante uns biliões de anos (petróleo) e agora estamos a gastá-la.
O ritmo de uso, (e subprodutos deste uso) é que é preocupante mas é fácil de resolver. Como será difícil "mexer" nas "comodidades" é preferível mexer no número utilizadores das comodidades.
Creio que no curto prazo será mau para a economia (retração do mercado por diminuição dos consumidores) mas com vantagens óbvias no futuro (além da vantagem adicional de que o imobilizado- infra-estruturas - estaria disponível por menos pessoas).
Mas os primeiros a entrar nesta lógica serão prejudicados, logo não há alternativas, vamos continuar a aumentar a população e o consumo de recursos até ao colapso.