sábado, 8 de dezembro de 2007

Ciência em Contra Ponto - II

O Princípio da Dependência

A afirmação de que o conhecimento é um bem é das tais que geram consensos imediatos.

A tal ponto que é difícil contrariá-la mesmo quando se tem a ideia de que os consensos tendem a constituir-se como menores denominadores comuns às certezas do seu tempo.

Qualquer revolução triunfante tem como condição necessária a capacidade de remeter para um paradigma de melhoria facilmente aceite. Na primeira metade do século passado os ideais de justiça social tiveram esse efeito aglutinador no Ocidente. A partir da segunda Grande Guerra, no entanto, o american dream começou a expandir-se, instalou-se e chegou ao ponto de hoje poder ser considerado um paradigma global.

A ideia já de si atraente de que todos podemos ser ricos e famosos, foi em devido tempo proveitosamente banalizada pelos média. Na voragem permanente de novos conteúdos, os média aperceberam muito cedo o potencial da ciência e daí à promoção da figura do cientista como herói dos novos tempos foi um passo inevitável. De Che Guevara como símbolo do herói romântico, transitou-se rapidamente para Einstein como símbolo de modernidade.

Mediatizada, a ciência ganhou visibilidade mas perdeu isenção e independência. A interferência dos média na divulgação do conhecimento alterou necessariamente o próprio sistema da sua produção. O cientista super-star é o subproduto óbvio deste processo, a um tempo agente e vitima de uma dinâmica que alimenta e que dele se alimenta, criando-lhe por essa via pressões extra que os patronos sabiamente diluem organizando sistemas de recompensas de que o Nobel pode ser um excelente exemplo.

Neste processo a produção cientifica subdividiu-se. A menos mediatizável adquiriu estatuto residual e funciona em roda livre. Mas nem esta, nem a produção cientifica institucional, esta mais que nunca hipotecada a agendas de poder, podem reivindicar para si uma dinâmica de serviço a um paradigma central de bem comum.

A ideia de que a agenda da ciência não deve subordinar-se a um projecto social, procura com frequência argumentos na tese de que dificilmente se pode antecipar o bem que se pode encontrar para lá das fronteiras do que não se conhece. Mas como é evidente, esta tese soçobra perante a prática, onde pontuam todo o tipo de oportunismos ou omissões, pois torna-se dificil acreditar que as consequências do voo do Enola Gay tivessem sido um surpresa para Openheimer.
Desde a investigação espacial à farmacêutica, os lobbies de interesses que a ciência alimenta são intermináveis. Ela alimenta-os, eles promovem-na, ela justifica-os e eles pagam-lhe por isso. Assim, a recusa da ciência ao controlo do poder politico democrático, não é um atitude de independência. Ela deve antes ser lida como aquilo que efectivamente é: a recusa do poder económico que a controla a subordinar-se ao que quer que seja ! Voluntariamente ou não, é dessa agenda subliminar que a ciência é dependente!

2 comentários:

Fátima Lopes disse...

Olá Manuel,

Ainda não li o post de hoje tenho de voltar com mais tempo. Só para dizer que como os OVNIS não existem publiquei no meu blog umas imagens do Rato Mickey que vai dar ao mesmo :-)

Namasté!

antonio ganhão disse...

Quem se alimenta dos média fica-lhes refém. Veja-se o caso do Santana Lopes.

O voo do Enola Gay, foi um voo solitário de deixou atrás de si um vazio e colocou o homem olhos nos olhos com o Criador: Não posso criar, mas como nunca posso destruir irremediavelmente o que Tu criaste.

Esta coisa das letras irrita-me.