segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Varinha Mágica


Há dias a varinha mágica que costumava fazer serviço na cozinha cá de casa, parou. Embora nova, a geringonça recusou peremptoriamente triturar a sopa. E esta manhã, sobre a bancada da oficina, resolvi-me autopsiar os mistérios daquela morte súbita na expectativa de uma fácil ressurreição.
Mas o caso é que ao contrário do que sucedia com o passe-vite da avó Clara, utensílio mecânico de idêntica finalidade, tracção manual e fácil acesso, o motor eléctrico da VM está encarcerado num corpo plástico blindado e por isso inacessível não só aos seus segredos constitutivos, como à mais simples intervenção eléctrica, uma vez que ainda que se saiba soldar um reles condutor desligado, não se chega lá sem escaqueirar o electrodoméstico.

Ora a nossa relação cultural com a civilização em que vivemos é em tudo idêntica a esta situação. Quando avançamos de uma forma inusitadamente rápida da idade do passe-vite para a da varinha mágica, passamos a interagir com uma série de dinâmicas que sabemos usar enquanto operadores mas cujo concepção nos escapa. Não os internalizamos ao nível da compreensão e provavelmente nem o conseguiríamos . É assim na culinária como na economia, na educação, na saúde, nas telecomunicações. Vivemos num mundo de magias cujos truques usamos, sim, mas ignorando como se realizam, informação essa que de resto só está acessível aos que a detêm e usam como instrumento de poder. As sementes híbridas de elevada produtividade de milho ou de trigo, p.e., são patentes detidas pelas grandes corporações da agro-industria e não propriedade da agricultura que delas depende e nós dela para nos alimentarmos. Mas o caso é que assim deslumbrados pelas infinitas habilidades de tantos brinquedos disponíveis, esquecemos este ponto essencial: perdemos o controlo cultural do modelo, ou seja, da nossa própria vida colectiva e pessoal.

A incompreensão dos mecanismos que nos sustentam como civilização e a dificuldade de acesso à informação que os produz, constitui uma dupla dependência, porque nos subordina ao domínio do conhecimento especializado e à correcta articulação da miríade de instituições que o operam. Mas vai mais longe que isso. È também uma regressão cultural e não progresso, porque produz comunidades não autónomas. A esse processo de perda de autonomia gosto de chamar desintegração da cultura e é terreno propicio à sementeira de misérias várias.

No ocidente esse tipo de miséria que resulta da confusão que se faz entre dependência e interdependência, ainda é mal percebida. Mas noutros territórios já são evidentes os seus sinais concretos quando povos despojados da memória funcional da sua cultura incorporaram sonhos alheios, criando assim novas fragilidades.

Era importante percebermos como isso foi possível. Por duas razões, pelo menos. Desde logo para evitar que as tentativas de saldo de dividas de má consciência contribuam para avolumar o problema e não para a solução. Depois para, eventualmente, nos evitar a nós mesmos ocidentais um percurso semelhante.

Procuremos na construção na personalidade do individuo uma metáfora de suporte para entender a cultura e a natureza da sua desintegração.

Há condicionalismos prévios à personalidade. De género, por exemplo. Nasce-se homem ou mulher, e isso “enquadra” alguns dos nossos desempenhos. Na cultura, esse papel de género é desempenhado pela geografia e só depois pela história. Portanto, tal como a personalidade não se elabora inteiramente sobre um espaço em branco, a cultura também não se constrói senão em redor de balizas concretas. Ela não é um caldo identitário que se escolha à la carte! Tal como a criança se formata primeiro na moldura do meio familiar em que nasce antes de alargar o seu espaço à comunidade, também a cultura se estabelece na interacção da comunidade na moldura geográfica e histórica em que se insere. Por isso a cultura cria ambiente, que é a viabilização cultural da Vida, e por isso se modifica nas interacções de causa efeito da sua própria dinâmica.
Ora, tal como a estabilidade da personalidade carece de relações estruturais fortes, a estabilidade da cultura precisa de princípios de interacção reprodutíveis apoiados em sistemas sustentáveis. Antes de mais esses princípios têm de ser capazes de dar resposta organizada às estratégias de subsistência . Eles assentam num processo longo de observação, recolha e tratamento de informação. Dele resultam conhecimentos de base regional que se consolidam em saberes. Nos casos das culturas de civilizações de sucesso, estes são conjuntos coerentes de resposta a circunstâncias especificas.

Vamos dar ênfase a esta ideia de coerência como algo mais que ligação de componentes mecânicas que produzem correctamente um trabalho previamente determinado, e pensemo-la antes como “alma” que opera órgãos interdependentes que se modificam a si e ao produto durante o processo em que o produzem. Porque tal como o corpo, também a cultura não se divide em cabeça, tronco e membros – compõe-se deles. Vivemos dessa integridade funcional de peças que não são cambiáveis. E nessa medida uma prótese num corpo é como um corpo estranho numa cultura. Eventualmente adapta-se, mas num registo de funcionalidade diferente cujas performances são imprevisíveis.

A desintegração cultural decorre por processos semelhantes, como resultado de “amputações” nem sempre acidentais eventualmente seguidas de “próteses” que modificam a orgânica instituída sem que com isso se crie necessariamente uma nova coerência.
Um paradigma pode ter esse papel de "prótese", como sonho substituto mas deslocado, porque falta à cultura o saber realizá-lo. Porque um paradigma coerente é sonho apoiado em memória consolidada em saberes capazes de salvaguardar as questões essenciais, como o controlo da produção local de alimentos. Quando o mundo rural afegão ou colombiano optou pelo cultivo do ópio ou da coca em detrimento da produção alimentar, arrancou as suas raízes autonómicas procurando no dinheiro a mediação para um paradigma que não lhes pertence. Com isso descartaram uma herança cultural e os respectivos meios e mecanismos internos de reprodução e progresso. Igual caminho se segue por aqui, quando se olha para o Alentejo como posto de abastecimento de biodiesel. Este “deixar de depender de si” encerra o corte com um fio condutor que não se repara no recurso aos manuais de agronomia, porque o que lá se encontra é mero manual de instruções para operar com “varinhas mágicas”blindadas. E é essa a miséria da desintegração cultural.

79 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Gostei da ideia cibernética: Face à mediocridade cognitiva dos consumidores/devoradores, o mundo é uma "caixa negra". Se um génio maligno matasse os fabricadores do mundo, a manada metabolicamente reduzida regressava à Idade da Pedra: a uma sociedade anterior ao pacto social atravessada pela violência. Aliás, esse é o procedimento do behaviorismo, a psicologia do capitalismo :matar a alma! :)

Anónimo disse...

"A incompreensão dos mecanismos que nos sustentam como civilização e a dificuldade de acesso à informação que os produz, constitui uma dupla dependência..."

A situação apresentada não é nova.
Lembremo-nos dos aprendizes e das corporações, tipo ourives, etc, ou a concentração da informação/formação no clero medieval.

A informação actual deve ser algumas ordens de magnitude superior á da Idade Média mas para aprender os rudimentos de uma qualquer "arte" basta comprar o livro "Seja um ...... em dez fáceis lições".
A quantidade de informação levanta problemas de encontrá-la (ou pelo menos aquela que consideramos relevante para os nossos propósitos) mas existe e, excepto na particularmente complexa, é livre (ou de baixo custo). As patentes, direitos autorais e similares protegem investimentos mas estão limitadas no tempo.

Em conclusão, se calhar a situação actual é a oposta da referida inicialmente.

Anónimo disse...

Olá Manuel!

Continua imparável nas suas metáforas, mas hoje estou com o Osvaldo, necessitando de metáforas complementares que me esclareçam porque devo ficar preocupada quando é facto que nunca a humanidade dispós de tanto conhecimento e por conseguinte nunca antes esteve tão bem apetrechada para lutar de forma eficaz contra a pobreza, a fome, a miséria e essas coisas todas.
Fico na expectativa da sua "tareia".
( muitos risos )

Matilde

alf disse...

Há dias um famoso cozinheiro inglês defendeu que deviam ser publicadas leis que obrigassem os restaurantes a servirem apenas produtos locais e da época.

A economia global cria uma dependencia global de um único fabricante, muito mais do que as pessoas imaginam. Quantas fábricas pensam que existem no mundo que façam memórias para computador, por exemplo?


Há um século, ou talvez dois, exitiam mais de mil variedades de cereais, cultivados numa imensa variedade de solos e climas; hoje cultiva-se só as qualidades de maior rendimento nos solos e climas mais adequados. Em pouco tempo, teremos uma única qualidade de trigo a ser cultivado num único tipo de ambiente.

Uma praga que surgisse antigamente só podia ter consequências locais porque só afectaria determinada variedade/ambiente. Hoje pode atingir dimensões globais.

Como refere o francisco de sousa, se isto se desmorona regressamos à idade da pedra. A estrutura que estamos a criar sustenta-se nela própria, não tem patamares de segurança.

...bastariam umas bombas colocadas em fábricas estratégicas para lançar o caos neste mundo tecnológicamente centralizado...

Mas há uma janela de esperança - muitos de nós têm a autosuficiência nos "genes"; e os preços dos produtos agricolas e dos combustíveis estão a subir, o que pode fomentar a agricultura local... e formas de vida mais sustentadas... embora me baixe a qualidade de vida..

André LF disse...

Excelente texto, Manuel! Gostei muito da sua forma de usar as metáforas!
A técnica está tão hegemônica que já é comum encontrar pessoas em busca de um manual de instruções para compreender o que se passa com elas e com o mundo. O capitalismo está engendrando inúmeros humanos-robôs

Manuel Rocha disse...

O comentário do Alf deixa-me contributos importantes para responder ao Osvaldo e à Matilde. Reparemos que eles nos seus comentários fazem um percurso recorrente que é o de opor a técnica à cultura. De algum modo a ideia subjacente é a de que mediante protocolos de procedimentos técnicos resultantes de prévio trabalho cientifico, estaríamos permanentemente aptos a replicar os procedimentos essenciais à arte da vida.
Há no entanto neste raciocínio duas lacunas importantes.
A primeira deixa-a a Matilde, quando nos fala de Humanidade, Pobreza, Fome, Miséria, como problemas globais. Serão, mas apenas em escala. Não o são em concreto. A humanidade apenas existe como abstracção. No terreno o que existem são comunidades em geografia e história. E cada fome é uma fome especifica, porque deriva de desacertos específicos perante esse contexto na sua interacção com o paradigma social aí vigente.
A segunda é que os meus prezados comentadores passaram ao lado de uma questão que faz toda a diferença no exercício da sobrevivência autónoma e que não sei como transpor para protocolo técnico: sensibilidade. Algo do género de um poder de interacção intuitivo.
Claro está, Osvaldo, que a ciência tem fornecido à técnica formas de contornar a sensibilidade que não tem actuando sobre o meio em antecipação e método laboratorial. Ou seja, na ignorância do dia e hora em que um ataque de míldio me irá arruinar a vindima em perspectiva, avanço preventivamente com sulfatações perfeitamente doseadas e temporizadas. E como se sabe até é possível funcionar assim. Mas para que o método não fosse inquestionável, teríamos que ter resolvida a variável da produção energética em que ele se suporta. Temos ?

Manuel Rocha disse...

Francisco,

E "morta a alma" o que é que nos resta como gente ?

;)

Gostei da referência do Alf à "falta de patamares de segurança". Estamos quase a fazer deste famoso ET um ecologista de primeira água...:))

André,

Obrigado.
A uniformização é um problema. E a meu ver uma deriva pouco inteligente, até para o próprio capitalismo.

Anónimo disse...

Está visto que sou masoquista ( risos )

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Quando disse que o behaviorismo era a psicologia do capitalismo, era para indicar o nível de cultura do comum dos mortais: estímulos e respostas condicionadas são suficientes para manter a "malta satisfeita", porque a "malta" deixou a alma secar: "caixa negra". A economia condiciona-nos para o consumo irracional e as pessoas não se apercem disso, mesmo que alertadas. O capitalismo assimila tudo: um modo de produção, de informação e de vida que seca tudo à sua volta. Precisamos de novas armas e é nessa tarefa que trabalhamos, certo? (Vejo que já respondeu às críticas!) :)

Anónimo disse...

Se de repente me pedissem para resumir este post numa só palavra, só me ocorreria uma: Mágico !

;)

Florbela

uf! disse...

Manuel, começo por lhe agradecer a chamada de atenção que deixou no meu post.
Continuo dizendo que gostei muito da forma como iniciou este seu texto mas não gostei da forma como o desenvolveu - problema meu, claro. Como estou com dor de cabeça, não vou conseguir relê-lo para tentar ser mais clara no meu comentário. Conto com a sua inteligência para colmatar a falta da minha. O que eu lhe quero dizer é que «sinto» (não é o Manuel que acreditava na intuição feminina?» que há um grão de areia no seu raciocínio. Não sei se haverá, se terá havido alguma cultura em que TODOS os meios de subsistência estivessem nas mãos de TODOS e de CADA UM dos seus membros. Neste caso da varinha, eu poderia dizer-lhe «quem te manda, sapateiro, tocar rabecão?». Acaso crê que todas as mulheres que usavam o passe-vite eram capazes de o desmontar e refazer?! Acaso julga que cada pessoa fazia a sua roupa, o seu calçado, pescava, caçava e cultivava a sua alimentação? Sabe, naturalmente, que as tarefas eram repartidas e até mais do que hoje. E a verdade é que o Manuel encontra, na sua cultura, forma de superar o problema da sua varinha mágica:
Hipótese 1: vai a um representante da marca.
Hipótese 2: vai comprar outra
Se o tresli, desde já apresento as minhas desculpas. Mas parece-me que o seu texto enferma um pouco do complexo do paraíso perdido, que não era assim tão paraíso.
NOTA: Não sou defensora da globalização mas da mundialização (v.d. teorias anarquistas)

uf! disse...

ai, esta minha mania de comentar antes de ler os comentários! Já por cá se tinha dito - e melhor- o que eu tentei dizer.

Anónimo disse...

Manuel disse:
"Quando avançamos de uma forma inusitadamente rápida da idade do passe-vite para a da varinha mágica, passamos a interagir com uma série de dinâmicas que sabemos usar enquanto operadores mas cujo concepção nos escapa"
O problema será a velocidade. As sociedades actuais estão talvez a colmatar este problema com o recurso ao ensino. Ou seja, tendencialmente seremos todos licenciados num futuro próximo. Não saberemos tudo claro, mas teremos as ferramentas mínimas para, em áreas minimamente conexas com a formação, compreender a concepção.

"Mas noutros territórios já são evidentes os seus sinais concretos quando povos despojados da memória funcional da sua cultura incorporaram sonhos alheios, criando assim novas fragilidades."
Não é possível impedir a aculturação num mundo global. Mas exactamente por ser global as fragilidades não serão atenuadas (os patamares de segurança do Alf em post posterior)?

"Ora, tal como a estabilidade da personalidade carece de relações estruturais fortes, a estabilidade da cultura precisa de princípios de interacção reprodutíveis apoiados em sistemas sustentáveis. Antes de mais esses princípios têm de ser capazes de dar resposta organizada às estratégias de subsistência"
Porque é que a estabilidade da cultura deve ser um fim em si mesmo?
Não sei se se poderá chamar a estratégias de subsistência ORGANIZADAS, mesmo em sociedades pouco permeáveis e estáveis. O facto de funcionarem, ou terem funcionado, não significa que são boas (no sentido da engenharia).

A ideia de JFFSousa é interessante. Umas bombas (bastantes!!) bem colocadas e passávamos aos futuro de Mad Max (plágio descarado de um comentário posterior do Alf). Mas como muitas rodas já foram inventadas voltaríamos rapidamente à situação actual. A informação para tal dificilmente seria completamente perdida...

Alf disse
"A economia global cria uma dependencia global de um único fabricante, muito mais do que as pessoas imaginam. Quantas fábricas pensam que existem no mundo que façam memórias para computador, por exemplo?"
A única alternativa para memórias de computador serão memórias para computador? Ou seja haverá mesmo produtos insubstituíveis? E as patentes têm duração limitada!

"Uma praga que surgisse antigamente só podia ter consequências locais porque só afectaria determinada variedade/ambiente. Hoje pode atingir dimensões globais."
Correcto, mas de UM SÒ TIPO de cereais. E existem as salvaguardas dos bancos de sementes além de que dificilmente extinguiria os 100% da população.

Manuel disse
"...uma questão que faz toda a diferença no exercício da sobrevivência autónoma e que não sei como transpor para protocolo técnico: sensibilidade. Algo do género de um poder de interacção intuitivo."
Se calhar já existe mais do que se pensa. Estou a pensar em reservas petrolíferas, de alimentos, diversificação de investimentos, investimento no conhecimento, etc. Vulgo não pôr os ovos todos na mesma cesta, embora se tenha de gastar mais um pouco em cestas...

uf! disse...

osvaldo lucas, só tenho um adjectivo: «gostei!» :-»

Anónimo disse...

Tia Adoptada:

Permita que comentemos sobre o seu comentário porque ele nos diz bastante. Escrevo no plural porque o faço em nome do auto intitulado "grupo do Bolinas", aqui da escola, liderado pela Matilde.
Também nós tivemos essa sensação de grão de areia nas primeiras leituras que fizemos dos escritos deste cavalheiro. Só que depois e ao longo dos vários textos, acabamos por conceder que o "grão de areia" é nada menos que o desconforto que se sente quando nos questionam as certezas e que estas afinal estão fundadas sobre leituras da realidade onde impera a ausência do género de pensamento critico que aqui se desenvolve .


Osvaldo:

Podemos estar enganados, mas julgo que a “sensibilidade” a que o Manuel se refere é diversa do exemplo que dá. Lemo-la como a que necessitamos para conduzir um carro, tarefa para a qual, por muito boas que sejam as instruções, não são elas que nos colocam à vontade ao volante quando não se sente o carro. Se estou errado, Manuel, peço desculpa.

Anónimo disse...

Osvaldo:

Concordo que é impossivel impedir a interculturalidade num mundo global. Mas se reconhece que esse facto produz fragilidades, deixa-me perdida no seu raciocinio. Então as soluções "gerais" são boas ou más ? Há ou não vantagem nas soluções especificas adaptadas aos condicionalismos do contexto geográfico concreto das comunidades? Como já lemos neste blog ( Soil Conservation Services ) e como deveriamos saber, situações como a do Darfur são dessa triste realidade um excelente exemplo.


Matilde:

O seu exemplo do carro acho-o muito bom.


Tia Adoptada:

As "saidas" que preconiza são as consensuais, porque muito práticas. Deita-se fora a varinha avariada e compramos outra, ou trocamos por pontos da BP. Mas então de onde vêm os problemas ambientais de que nos queixamos ? Ou andaremos em estado de paranóia colectiva e afinal a fome não existe, a agricultura é isenta de impactos, a indústria uma maravilha, e a qualidade de vida que fruimos e queremos melhorar é facilmente globalizavel ?
Desculpe, mas não percebi o seu ponto.

Florbela

Anónimo disse...

Caro Manuel Rocha:

Entendo-o ! Mas difícil "nadar contra corrente" ilustrada caixa comentários. Ao apelo leitura integrada simplicidades coerentes, opõe-se fé pragmatismos vigentes.
Corência entre que se quer ( paradigma)/ que se sabe fazer para o conseguir ( cultura ),é ponto central da tese: desintegração coerencia estrutura cultural como viveiro misérias várias.
Gostei!

Cumprimentos.

Trigo Pereira

Anónimo disse...

O texto parece-me excelente e muito bem demonstrado.
Por isso confesso alguma perplexidade com as dúvidas que encontro nos comentários e são elas que me trazem aqui.

Quando o texto termina referindo-se a "um deixar de depender de si", será que alguém se esqueceu de ler ali um sí plural e localizado? Se assim foi, entendo, caso contrário, não!
Uma semana sem energia electrica e ficamos todos de patinhas para o ar. Como é que, no que à autonomia concerne, se pode comparar este tipo de vida com a dos nossos avós ? Não interpreto a autonomia como sinónima de qualidade de vida, e muito menos com a forma como a concebemos, mas não tenho dúvidas de que os nossos avós eram bastante mais autónomos, pois tinham um conhecimento concreto do meio que os rodeava. Qualquer jeitoso com um alicate reparava um passe-vite, tenham paciência. E todos sabemos que hoje se deita fora a torradeira porque fica mais em conta comprar uma nova que mandar substituir uma resistência. Ora se isto é um progresso, eu prefiro a idade da pedra.

Cumprimentos a todos.

Jorge

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Têm sido feitos aqui uns comentários muito interessantes e penso que a ideia de Marx do "Homem Total" ajuda a compreender a necessidade de sermos seres mais completos, o que não exclui a diferenciação e a divisão das tarefas. No fundo, o aumento dos tempos livres seria uma condição necessária para essa tarefa de completar as nossas capacidades e sensibilidades, mas o capitalismo soube organizar os tempos livres e convertê-los num negócio organizado: em vez da "totalidade", temos fragmentação", miséria de espírito...

antonio ganhão disse...

E isto tudo foi a forma de dizer à senhora lá de casa que, com a falta de jeito de um urbano, escaqueirou o pobre do electrodoméstico!

Uma desintegração cultural! Realmente muito se perdeu, do passe-vite à varinha mágica, todo um mundo de afectos!

Fernando Dias disse...

Um grande abraço ao bom amigo Manuel Rocha. Também assinalei o meu cumprimento no blogue do Francisco. Da minha parte isto tem andado muito fraco.

Manuel Rocha disse...

Esclarecimento esquemático ao ( bom ) gosto da Tia Adoptada:

Premissas do texto:

1.A cultura como património e como conjunto coerente de interacção
2.A autonomia como valor
3.A comunidade como entidade cultual indissociável da localização na perspectiva de uma vida sustentável ( saldos nulos ou positivos dos balanços energéticos )

Coisas que o texto não pretende:

1.Tecer quaisquer considerações concretas sobre “qualidades” culturais, e muito menos sobre as “passadas”; quando refere “casos de culturas de suporte de civilizações de sucesso”, o conceito satisfaz-se com a noção de que foram as que duraram qb para deixar rasto .
2. Fazer a “Apologia do Paraíso Perdido” ( não estive lá…não sei se houve ) ou do” Inferno Vindouro” ( os profetas não me convencem).

Coisas que o texto gostaria:

1.De valorizar a importância da componente regional ( e do conhecimento da sua especificidade )na concepção dos tempos vindouros ( adivinhe porquê ;))
2. De chamar a atenção para esta prosaica: a incoerência interna numa cultura ( desacerto estrutural entre expectativas e capacidades efectivas de realização ) não me soa a nada de bom. Claro que nos países ACP percebe-se melhor porquê, admito.
2.De levar a reflectir a vulnerabilidade de quem decide ( ou permite ) a contratualização sistemática em regime, de “out-sourcing” das dinâmicas estruturais de suporte.



Mais Licenciados, Osvaldo ?

Sim, deve ser bom. Mas olhe, este seu amigo deve ter por aí a forrar o fundo de uma gaveta um diploma qualquer em agronomia. Sabe definir-lhe capacidade de troca catiónica,reconhece pela fórmula química o Glifosato e reproduz-lhe facilmente a equação de síntese quimica do sulfato de amónio. Mas as couves do meu vizinho Nunes, um octogenário que apenas sabe assinar o nome , são sempre melhores que as minhas. E os alhos que cultivo, apenas deixaram de “abrir” as cabeças quando os comecei a semear de acordo com as instruções do Velho Nunes: no “escuro” ( Lua Nova ) de Janeiro, coisa que não vejo explicada em nenhuma obra de horticultura. Acontece !

;)

Já volto com mais comentários...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

O Furacão Katrina e o seu impacto mostrou como as pessoas não precisam de tantos luxos para viver alienadas: Katrina impôs-lhes o desprendimento e a solidariedade, mas elas podem ser educadas para o desprendimento, de modo a assumirem responsabilidade pelo mundo.

uf! disse...

cara Clorbela, a hipótese 1 (vá a um representante da marca) tinha em vista a reparação da dita varinha.
Desculpe-me a pergunta mas... a Florbela usa passe-vite?
Outra forma de reciclar é a «arte moderna» Quando a minha varinha se avariar, definitivamente, vou colocá-la ao lado do passe-vite que enferrujou. Que acha se lhe der o título de «adeus, fada do lar»?
:-)))

uf! disse...

«auto intitulado "grupo de Bolinas"», falai, por vós, das vossas leituras e deixai que eu própria fale das minhas. Só para lhe(s) dar um exemplo: no meu terreno, infelizmente, não havia ortigas (urtigas). E que fiz eu? plantei uma mão cheia delas. Não foi para fazer sopa - ainda que não descarte essa hipótese. Foi para usar como «pesticida»!
Capici? :-)

uf! disse...

Matilde Costa, ou auto intitulado grupo de Bolinas, o «se estou errado» saiu-lhe mal :-)))))

uf! disse...

Manuel, um aspecto MUITO IMPORTANTE: os alhos devem ser retirados da terra na manhã (madrugada)do dia de S. João, quando a terra ainda está fresca. Só assim não murcham nem ganham bicho. Pelo menos, cá em casa, é assim. No ano passado, estava fora e... metade dos alhos foram fora!!!
Quanto ao escuro, assim se deve fazer para tudo o que cresce sob a terra (batatas, rabanetes, cebolas, etc)

uf! disse...

Jorge Correia, é tão engraçado ler, num coputador, usando a internet, a sua afirmação de que prefere a idade da pedra! Se não tivesse estado a ler e a escrever neste blog, ter-se-ia poupado alguma energia :-)
Não me leve a mal; é uma provocação. O que eu quero dizer é que não faz sentido andar para trás; rapidamente apareceria um novo BG a transformar uma pedra em pc; para além de que teríamos de passar outra vez pela trabalheira de uma série de combates para acabar com a escravatura, com a pena de morte, sei lá...
Há certamente outros caminhos! Para a frente, quero eu dizer.
É que as mentalidades não se mudam por decretos e muito menos com regressos à idade da pedra.
E respeite o passado dos seus avós, rapaz! Só eles sabem a dureza que foi a vida deles. Deixe-se de olhares românticos sobre o passado. Se tiver a felicidade de ainda os ter vivos, pergunte-lhes, vá. Autonomia? No tempo da guerra adoçava-se o café com rebuçados. A gente da serra nunca via peixe, na vida, a não ser o salgado! etc. Tenha dó!

uf! disse...

Mais licenciados, sim, Manuel. Licenciados que saibam escrever e interpretar, de preferência. E, que eu saiba, nada impede que esses saberes do seu vizinho passem para os livros e para os programas escolares.
Só para lhe dar um exemplo, na minha «escola» um grupo de estudantes fez uma recolha das ervas medicianis da serra do caldeirão, com indicação das formas de utilização.
E não me diga que não conhece o Borda d'água?!
Os meus vizinhos ensinaram-me muito. E eu também lhes ensinei alguma coisa. Já pensou que o seu vizinho nunca pôde escrever uma carta de amor? Nem ler?
Foi com os olhos marejados de lágrimas que uma vizinha me contou da vergonha que era ter de sujar o dedo com tinta, por não saber assinar; e que nunca teve privacidade no diálogo epistolar que trocava com o marido, quando ele esteve em França: as cartas eram sempre escritas e lidas por terceiros! Consegue imaginar o que isso significa?
E consegue imaginar o que eu senti ao pensar que eles podiam, finalmente, votar em liberdade, mas sem certos conhecimentos essa liberdade continuava a ser-lhes sonegada? Consegue imaginar o que eu sentia quando me perguntavam em quem achava eu que eles deveriam votar?...
Ai Manel, Manel...

uf! disse...

adenda: quando refiro, algures, «no tempo da guerra», refiro-me à 1ª guerra mundial; quando digo que a gente da serra nunca via peixe refiro-me a um passado mais recente, em que eu já por cá andava. Tive umas vizinhas que viviam a cerca de 30/40 Km do mar. Fui eu quem as levei pela primeira vez a ver o mar. Estavam elas já na casa dos 70 anos!!! (Eu chorei de alegria, ao ver a alegria delas a rebolarem-se «na babuja») E antes de eu começar a ir para lá aos fins-de-semana, comiam peixe uma vez por mês, que era quando lá ia uma carrinha. Peixe mole... sem brilho... caro!
Adoecer?! Era luxo a que não se podiam dar, claro! Para ir ao médico era preciso sair de casa às 3h da manhã e, ainda assim, corriam o risco de chegar ao posto médico e o médico faltar... Sim, que os médicos também adoecem, sobretudo quando trabalham em certos centros de saúde...
ai, ai...
Lá autónomas, eram...e digo autónomas porque foram elas que ficaram a cuidar das terras, nos animais e dos filhos quando os maridos emigraram... Mas é um conceito de autonomia muito estranho... digo eu.

Anónimo disse...

Cara Tia Adoptada:

Assinei o meu comentário como Florbela, o meu nome, e não como "Clorbela", que não uso. Na pressa de escrever deve ter trocado as letras. E na pressa de ler, sinto que não entendeu o que se questiona. Por isso os seus argumentos me soam meramente "argumentativos". Parece que só a Tia e o Osvaldo leram na critica que é feita à perda cultural de autonomia uma sugestão de regresso ao passado. Além disso, quando evoca, e bem, as dificuldades dos nossos antepassados, isso não quer dizer, que não fossem muito mais independentes que nós somos. A liberdade de movimentos de que dispomos hoje, poderá dar a ilusão contrária. Mas, e essa é a questão que insistimos em não querer discutir, devemo-la a uma lógica muito pouco ( ou nada) sustentável.

Florbela

uf! disse...

Florbela, as minhas desculpas pela troca de teclas - foi, de facto, o que se passou. Os outros comentários não eram relativos ao seu; os respectivos destinatários estavam identificados; e houve, efectivamente, quem afirmasse antes querer voltar à idade da pedra. Se se der ao trabalho de ler, talvez compreenda .
Votos de um bom dia, com ou sem tecnologia. :-) Não se amofine :-)

uf! disse...

ainda para si, Florbela: não vou entrar em debate - já ocupei demasiado espaço aqui. No entanto, gostaria que reflectisse sobre os seus conceitos de liberdade e independência. Desculpe a indelicadeza mas, acaso sabe alguma coisa sobre o sistema que vigorava no alentejo? Para não ir directamnete ao feudalismo, claro!
Presumo, talvez abusivamente, que seja uma pessoa jovem, com uma visão muito romântica da história. Uma coisa é a que se escreve, outra é a que se vive.
Antecipadamente peço desculpa se me excedi na análise da sua pessoa

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Florbela

A Tia Adoptada escreveu erradamente:

"... os respectivos destinatários estavam identificados; e houve, efectivamente, quem afirmasse antes querer voltar à idade da pedra."

Ora, esta afirmação mostra claramente que a Tia é precipitada e não procura compreender o que foi e é dito, porque não disse que queria "regressar à Idade da Pedra". O que estava em causa, pelo menos para mim, eram as competências intelectuais do homem de hoje e estas regrediram. O argumento do génio maligno era uma experiência de pensamento: os homens de hoje estão despreparados para manter a cultura e a tradição e, sem os fabricadores do mundo, voltavam atrás em muitos aspectos.

Anónimo disse...

Cara Tia Adoptada:

Não. Não "capici". Lamento.

O "estou errado" não me saiu mal. Faltou apenas ter "assinado" o comentário.

João Raposo

uf! disse...

Francisco, não seja tão egocêntrico. Eu nem tinha lido os seus comentários - a não ser que o Francisco tenha assinado como Jorge Correia. Eu referia-me ao comentário entrado como sendo de jorge correia e que diz «Ora se isto é um progresso, eu prefiro a idade da pedra.»
Ora, tenha santa paciência, Francisco! Tem a mania de que só o que o senhor diz é que é importante e que todos os comentários são picadelas para si; já aconteceu isso no Rabiscos, lembra-se? Pos serão importantes, mas eu já não tenho paciência para o ler. Sou demasiado ignorante para o compreender e o senhor não se dá ao trabalho de escrever de forma a ser entendido por semi-analfabet@s como eu. Por isso, desisti. O.K.? Está bem assim? É suficiente para o seu imenso ego, inchado de tanto complexo (de inferioridade)?

Anónimo disse...

Cara Tia Adoptada:

Se a informação é relevante, informo que tenho 38 anos e a minha área de formação é a geografia.
Tenho o maior gosto em fazer as reflexões que sugere. Não entendo é o que possam elas ter a ver com o tópico do post que, por respeito ao autor, deveria também ser o nosso neste debate de comentários.
Estudei em devido tempo os sistemas sociais do modo de produção vigente no Alentejo desde a colonização romana. Tenho opinião formada sobre a sua natureza. Mas isso não me deve impedir de ser objectiva na leitura da coerência ou incoerência técnica das soluções culturais que durante esse processo foram encontradas para fazer a terra produzir. Nem me permite deduzir que o progresso social da região fosse incompatível com uma relação com um modo de produção que não negligencie os saberes culturais adquiridos. Refiro, para concretizar, os métodos de afolhamento e rotações de cultivos anteriores à agricultura industrial. Acrescento as técnicas de secagem e conservação de cereais, de produção de queijo ou enchidos. Ou seja, aquilo que num cenário sem "petróleo"permitia um elevado grau de autonomia e que entretanto evoluiu ( e não sou contra essa evolução enquanto processo, sublinho )mas numa relação de intima dependência de factores externos que não teria de passar necessariamente por aí. Ou acha que tinha ?

Florbela

uf! disse...

matilde costa João Raposo. Lamento mas receio não saber explicar melhor. Eu sou semi-analfabeta. Vou à procura de vaga nas novas oportunidades.
Entretanto, vou dar a mim própria uma nova oportunidade e fazer uma segunda tentativa para explicar: EU ESTOU PREOCUPADA COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL e traduzo essa preocupação no meu quotidiano, sempre que posso. Por isso, em vez de usar pesticidas agressivos, faço um preparado com urtigas para certos casos; planto cravos da índia para outros; afasto os caracóis das plantinhas rodeando-as com cinza. Reciclo. Faço o meu próprio estrume. Reciclo papéis ( e faço papel de carta com o papel velho e folhas e pétalas secas), só para lhe dar alguns exemplos. Ficou mais claro, agora?
Bom resto de dia :-)

uf! disse...

Florbela, precisamente por respeito para com o autor do blog, não me vou alongar mais aqui; se desejar, convido-a a continuar a conversa no meu estaminé.
Cordiais cumprimentos

Anónimo disse...

Cara Tia Adoptada:

Se isso importa ( parece que sim), esclareço que mantive a referência “Matilde Costa” para indicar a “origem” do comentário.

A sua declaração de semi-analfabetismo soa-me a um género de arrogância que julgo desnecessária.

Eu não entendo nada de “horta”, minha senhora, logo, é natural que não tenha entendido à primeira. Obrigado pelo esclarecimento. Mas se bem a li, diz-nos que faz uso de informação que não creio que faça parte das “novas tecnologias”. Ou seja, não ignora o passado como ponte para o futuro, nem assume que tudo o que é antigo é para deitar fora “apenas” porque é antigo. Portanto, não regressando ao passado, não deixa cair a memória como solução de continuidade ( cultural ) possível e eventualmente valiosa. Se assim é, então a sua prática está em linha com o fio condutor do texto, o que me deixa perplexo quanto à natureza das suas objecções.

Cumprimentos.

João Raposo

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok Tia Adoptada

Afinal, é mesmo um OVNI, porque não quer compreender o assunto que está a ser tratado, preferindo passar a falar de urtigas e de outros assuntos irrelevantes, tais como substituir a varinha mágica, porque não quer ter trabalho adicional.
Ora, o que o Manuel disse era que as pessoas desconheciam a mecânica de funcionamento da varinha e, mesmo que a conheçam, se a quizerem concertar, o objecto hermeticamente fechado não o permite. Objectivo empresarial que exige a continuidade do consumo irracional: nada é durável. É este modelo que está a ser questionado.

uf! disse...

João Raposo, eu aposto, de facto, no
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Lamento se não o soube dizer. A minha afirmação de semi-analfabeta não desejava ser arrogante. E o facto de não ter conseguido passar as ideias que desejava é prova do meu semi-analfabetismo. Posso dizer-lhe, por exemplo, que tenho consciência de que NÃO SEI COMUNICAR NA NET, COM PESSOAS QUE NÃO CONHEÇO E QUE NÃO ME CONHECEM. Dá sempre barraca, como pode verificar pelos últimos comentários :-(
Para além disso, considero-me uma eterna aprendiz, enquanto o meu neurónio filho único, mimado e preguiçoso o permitir ( esta do neurónio único é brincadeira, claro; não a tome como arrogância kkk). Nunca considero um conhecimento como um dado adquirido mas apenas como mais uma perspectiva de mais um elemento do puzzle. Há muita coisa que desconheço. Mas insisto em tentar conhecer algumas, necessitando, infelizmente, de fazer selecção.
A título de curiosidade, posso contar-lhe que, em tempos, tinha eu um namorado engenheiro (da parte da electrotecnia), e tendo-se avariado o moinho (eléctico) do café, lhe pedi para ele arranjar. Ele não conseguiu. Eu consegui... Sobrou um parafuso, no fim -e eu fiquei sem saber se sobrara da máquina, se da minha cabeça :-)))
Posso dizer-lhe, também, que, ao fim-de-semana, eu usava um moinho de madeira e metal, manual. Dos antigos. Durante a semana usava o outro.
Bem, tudo isto, para lhe dizer que não sei onde falhei, na minha explanação. O que me pareceu foi que, no texto do Manuel, o fio condutor, a dada altura, se quebrara. Por distracção minha, provavelmente. Não vou voltar a ler porque, como nunca mais chove, por cá, vou mesmo ter de regar a horta; há uma parte que ainda rego por levada, abrindo a entrada das leiras com o sacho (o que é uma forma tradicional muito pouco sustentável porque faz gastar mais água e mais tempo, mas psicologicamente muito saudável, para mim)
cumprimentos

uf! disse...

Manuel, por favor, explique ao Francisco que:
1. «OVNI» significa Objecto Voador Não Identificado. Eu não sou objecto nem dada a grandes voos. E estou identificada.
2. escreve-se «quiserem» e não «quizerem», mesmo com a entrada em vigor do novo acordo.
3. eu já aqui expliquei que a primeira sugestão (ir ao representante da marca) tinha em vista a reparação do objecto e não a sua substituição.
***
Agora, a sério: Manuel, desculpe-me por ter usado um tom menos simpático para com um dos seus amigos. Não repito. Mas o facto é que, se não sou OVNI, sou uma mulher que de santa nada tem nem deseja ter.
Cumprimentos e continuação de doce silêncio :-))))

Manuel Rocha disse...

Ahaha, Tia...

O meu "silêncio " deve-se apenas a não saber por que ponta pegar nesta animada troca de comentários ( e galhardetes )..ahaha!

E deixe-se de desculpas indevidas, pois, que se saiba, quem por aqui anda tem com que se defender da sua falta de santidade, caracteristica que me é muito simpática, embora conheça quem professe o culo mariano e seja igualmente simpática...;)

:))

E. A. disse...

Manuel,

Obrigada pelo desafio que me propôs: como já deveria ter reparado, o meu blog n é ensaístico, mas sempre poderia enviar-lhe por e-mail. Em todo o caso, o meu conhecimento sobre a economia da Grécia Antiga é meramente "enciclopédico", sem apropriação ou reflexão pessoal, não sei até que ponto lhe possa ser interessante... No entanto, ao encontro da distinção economia privada e economia pública, é de grande relevo O Discurso sobre Economia Política (1755) de Rousseau, cuja tese é precisamente essa, consonante com o Livro I da Política de Aristóteles. :)

joshua disse...

Manuel, dás-nos mais uma vez e oportunidade excelente de exercer uma crítica cabal para começo de extracção (pela via intelectual) de este sistema Matrix que subjuga de dependências o indivíduo.

Lembro a minha-do-meu-sogro roça, no interior do Pernambuco, onde se vive da carne do bode, ali morto e retalhado, longe de tudo e de todos, onde a abundante lenha da caatinga me serve de combustível, a água de um açude me permite tomar banho e beber, regar uns pés de manga, de coco, de bananeira, umas flores e, da cidade, só uns items poucos essenciais e nada mais.

A alma que a cultura actual de dependências radiculares extingue, reencontra-se ali, num certo despojamento não inteiramente radica, mas de compromisso, para fazer um uso racional e justo das coisas.

Viver no balanço oscilatório da profusão de estímulos de esta sociedade mortífera dos nervos exacerbados pela competitividade por exclusão, por derrota, por esmagamento da concorrência, pelo triunfo unívoco das hegemonias, sociedade das ânsias nunca extintas, por um lado, e na extinção de todas as ilusões para viver a essencialidade da nossa condição mortal na amplitude e naturalidade da minha-do-meu-sogro roça, eis a lição e, mais uma vez, o desafio que nos possibilitaria um uso mais sábio da técnica, que é actualmente uma ferramenta desalmada.

PALAVROSSAVRVS REX

Denise disse...

Manuel,
Permita-me felicitá-lo pela metáfora metonímica de trejeitos poiéticos com que optou por iniciar a sua reflexão sobre relação cultural e civilização. Não pertencendo ao "Grupo de Bolinas", ou a qualquer outra "escola", arrisco-me a comentar os seguintes aspectos:
1. Gostei particularmente da constatação de que "vivemos num mundo de magias cujos truques usamos, sim, mas ignorando como se realizam, informação essa que de resto só está acessível aos que a detêm e usam como instrumento de poder". Alimentam-se desta nossa ignorância compartimentada os movimentos déspotas de quem detém o poder que se renovam com esta dependência ironicamente criada por cada um de nós. Reconheçamo-nos, por isso, e muito infelizmente, como parte integrante da "manada metabolicamente reduzida" de que fala o Francisco.
2. Compreendo e defendo a importância das nossas referências culturais basilares que nos configuram como indivíduos e, obviamente, elementos de um grupo.
3. Porém, a inclusão de novas próteses antecedidas por amputações por vezes necessárias não nos conduz, necessariamente, a uma perda de autonomia cultural. Explico-me: acredito na renovação dos grupos sociais e da própria civilização que, sem renunciar o seu berço, o seu modelo cultural fundador, se permita a superá-lo e ou renovar sempre que ele deixa de fazer sentido. Acredito, pois, na capacidade de de metamorfose da sociedade como tecido orgânico, na sua capacidade de adaptação e na sua faceta mutante (sem a conotação negativa habitualmente subjacente ao adjectivo). Ou por oura: os sonhos alheios não criam necessariamente novas fragilidades que desaguam num desintegração cultural. Há sempre a possibilidade de nascerem excelentes intertextualidades que enriquecem a consolidação cultural.

Regresso às minhas palavras iniciais, reafirmando a minha simpatia pela forma como exprime as suas ideias, mesmo que não nas acompanhe na totalidade. Ou porque penso mesmo de outra forma, ou porque sou ignorante, ou porque sou apenas uma gaiata de letras que entorpecida com insónias se decidiu a bolinar às 3 da manhã...

Denise disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denise disse...

Acrescento que me divirto sempre, e muito, com a animada troca de argumentos dos seus comentadores.
Esclareça-me só uma coisa, meu Vizinho: quando se refere ao "culo" mariano professado pela igualmente simpática gente sua conhecida, utiliza a palavra num aportuguesamento propositado do «culus,i» latino, ou trata-se antes de uma da suas lindas dilexias (que eu gostaria de anotar se para tal me der a sua permissão)?

uf! disse...

BINGO! A Pita, ensonada, tocou na ferida, encontrou o grão de areia que a miopia da cota não conseguia focar! Boa, Deni! (já te disse, hoje, que te adoro?)
Era precisamente isso que me estava a incomodar no texto e eu não conseguia verbalizar; uma subreptícia recusa do progresso (ainda que seja apenas DESTE progresso), à qual acrescentarei, agora, uma certa miopia relativamente ao passado.
Manuel, na minha óptica, nem o passado era assim tão sustentável nem o presente o é assim tão insustentável. Eu sou optimista (talvez por isso possa apostar nos ideais anarquistas).
Passo a tentar dar algusn exemplos.
Os nossos antepassados desconheciam, muitas vezes, as consequências das suas acções´, para além do «então» e «lá». Quando fala no passado, não sei até onde deseja recuar mas presumo que seja até ao antes da revolução industrial.Nessa altura, não se sabia, por exemplo, as drásticas consequências do acto que se sucedia ao «água vai!»; não se sabia as drásticas consequências de comer em vazilhas que tinham chumbo, na sua composição. Não se sabia das consequências da pesca de arraste. Não se percebia que o beija-mão e o beija-pé podia ajudar a espalhar a peste e outros males contagiosos...
Nessa altura, a autonomia também não era assim tanta: os lavradores dependiam, por exemplo, dos ferradores,dos vedores de água e dos ferreiros, para dar apenas três exemplos.
A ferradura e a unha dos equídeos estão à vista, são acessíveis, mas nem toda a gente dominava a arte de os juntar. E as ferraduras não eram eternas... Também tinham de ser substituídas. As mulheres sabiam trabalhar o linho e a lã desde a planta ou animal até à fatiota final, é verdade, mas precisavam de comprar alguns dos instrumentos. As artes e mesteres não estavam ao alcance de qualquer pessoa. As mulheres dependiam dos homens e os homens das mulheres; os vassalos dependiam dos senhores feudais e os senhores feudais dependiam dos vassalos; os senhores feudais dependiam do rei e o sei dos senhores e dos seus exércitos...Mesmo se regressarmos à sociedades sem escrita, já lá encontramos «tecnologia» e o poder associado à mesma. Na comunidade nem todos sabiam como tratar certos males - e o poder estava nas mãos de quem tinha esse conhecimento; nem todos aprendiam a arte da caça (nas sociedades patriarcais isso era vedado às mulheres) e o poder estava nas mãos de quem trazia carne para a aldeia ( é claro que há excepções , mas não me parece necessário entrar em pormenores); nem todos tinham acesso ao diálogo com a(s) divindade(s) e o poder estava nas mãos de quem «falava tu cá tu lá com o divino).
Por outro lado, hoje, para além de continuarmos a ter acesso aos conhecimentos de antigamente, temos acesso à tecnologia actual; a nossa escolha é mais livre e mais eficaz, se assim o desejarmos. A evolução nos meios de comunicação podem impedir o obscurantismo e facilitam a partilha de saberes diacrónica e sincronicamente. Embora não esteja a acontecer (ainda ) isso, a mundialização permite uma troca de serviços no respeito pelas diferenças; antes da revolução industrial, o que se obtinha, vindo de fora, era obtido à custa do sacrifício de vidas e de culturas. Foi dizimando populações que nos apropriámos da batata, do milho, do cacau, do café...
E há um movimento de tomada de consciência das consequências perniciosas de cada um dos nossos actos. Não é por acaso que surge o conceito de «desenvolvimento sustentável»! A Ética ultrapassou o humano/aqui/agora e já se preocupa com o universo/amanhã.

Anónimo disse...

Denise:

Permita que me refira ao seu comentário de que gostei muito.
Nele usa a expressão "necessariamente" de uma forma que me parece correcta e que, na minha leitura, é peça central na compreenção do texto do Manuel quando põe a tónica na COERÊNCIA INTERNA da cultura, aspecto que a Denise, tal como a Tia Adoptada, escamoteia na leitura. Ou seja, o problema não está na mudança em si, mas na forma como decorre e nos elementos concretos que incorpora ou perde nesse processo.
Julgo que valia a pena fazermos um esforço sério de reflexão sob este ponto de vista que me parece da maior importãncia, sobretudo quando é lido em linha com os anteriores textos do Manuel sob a etiqueta da "geografia da fome". Arriscaria mesmo que o Manuel terá sérias reservas sobre a valia das abordagens dos problemas do Terceiro Mundo pela via das ajudas tradicionais, mas isso ele o dirá se o entender quando resolver quebrar o abandono a que votou os seus comentadores;)

Florbela

Denise disse...

Mas que exagero com os foguetes, Tia Adoptada! :)))

Sim, Florbela, embora tenha lido o blogue inteirinho do Manuel, admito que possa ter escamoteado algo de importante que seja recorrente nos seus posts. Porque uma primeira leiura, em assuntos que não me são muito familiares, não permite, obviamente, a consolidação do meu raciocínio sobre o pensamento do simpático autor de que, verdade seja dita, ainda não me apropriei verdadeiramente (o pensamento, não o autor).
Com efeito, apresentei a minha posição sem especificar nem exemplificar asolutamente nada e por isso fico-me pela generalidade do "há aspectos a não esquecer e há aspectos a alterar".
Mas não coloco, como refere, a tónica no "problema (que possa haver) na mudança em si" mas precisamente "na forma como decorre e nos elementos concretos que incorpora ou perde nesse processo". Mas é o problema do discurso generalizado que adoptei. A Tia Adoptada foi mais longe e presenteou-nos com uma série de exemplos.

Aprenderei com o meu Vizinho e os seus fiéis comentadores a reflectir sobre a geografia da fome (gosto de desafios) e depois logo construirei a minha própria filosofia sobre o assunto que não será necessária ou obrigatoriamente muito diferente da vossa. Veremos.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Sim, Denise, a Tia Adoptada foi mais longe, mas quanto a mim pelo pior caminho. São muitos tiros de chumbo fino para tentar abater caça grossa, porque os problemas da sustentabilidade do paradigma ocidental não podem ser discutidos apenas na óptica das evoluções concretas que registamos nos nossos modos de vida individuais. Mas nisso não serei a pessoa mais habilitada para escrever. Nada como entreter insónias de volta dos muitos escritos que o seu ( nosso ) vizinho nos tem deixado por aqui:)

Agradeço e retribuo os cumprimentos.

Florbela

Anónimo disse...

Uma vez que há gente de letras nos comentários ( Olá Denise:)), eu peço o favor de um esclarecimento: por acaso passado e memória são sinónimos ?

Invocar os conhecimentos e os saberes da memória implica fazer a apologia do passado ou antes uma leitura critica da História ?

Será que a Tia Apressada reparou nesse detalhe quando me respondeu ?

Cumprimentos

Jorge

Anónimo disse...

Permitam-me: talvez leitura calma apenas último parágrafo texto ajude esclarecer debate em curso.

Cumprimentos.

Trigo Pereira

uf! disse...

só mais uma adenda: outro grão de areia (não no texto mas no meu raciocínio) foi a alusão às próteses. O que caracteriza a nossa espécie e a impediu de se extinguir é o facto de sermos «construtor@s de próteses». A expressão não é minha, mas tenho pena. As mais antigas, de que me lembro, foram as fabricadas em pedra lascada. Nós somos a espécie mais prematura, menos preparada para sobreviver e só por cá continuamos graças a essa capacidade de fabricar prótese. Naturalmente que algumas dessas próteses, logo, quando são inventadas, são manejadas com alguma inabilidade mas depois são rentabilizadas; outras começam por ser usadas com fins éticos e são desviadas (lembram-se do filme «Os Deuses devem estar louco»?; mais a teoria da relatividade e a bomba atómica?).
E vou-me embora, que tenho pressa (embora apressada, quando leio faço-o para tentar perceber o que dizem; quando não leio, digo; quando leio em diagonal também digo. Há exemplos disso neste conjunto de comentários, creio. Parece-me, porém, que há quem leia para tentar encontrar (apenas) o que lhe dá mais jeito)

uf! disse...

p.s. o meu mal é a falta de insónias; há quem não consiga dormir, quando toma café; eu não consigo tomar café quando durmo
:-)))

Anónimo disse...

Tia Adoptada:

Gostei da história do café ;)

O seu último argumento é muito bom. Mas é auto-fágico. Explico. Reconhece a ambivalência natural dos acrescentos culturais, sublinhando que as coisas boas (teoria da relatividade ) não conduzem apenas a bons resultados ( bomba atómica ). Então, acaba por escancarar portas ao argumentário do autor nos exactos termos expostos claramente no último parágrafo conforme muito bem chamou a atenção o comentário do Trigo Pereira. A partir desse ponto, claro que a Tia tem toda a legitimidade para defender que as “próteses” recentemente adquiridas são factores de progresso. Mas consegue demonstrar que são sustentáveis ? E ainda faltaria demonstrar que são éticas e equitativas para que se completassem os pressupostos de desenvolvimento que bem defende.

Bom almoço a todos.

Josão Raposo

Denise disse...

Sei do carácter puramente retórico da sua questão, Jorge, mas aproveito para lhe retribuir o "Olá" sorridente :)
Diria eu que a memória é a ficção que cada um de nór constrói do passado tal como o perspectivou. Por isso não arriscaria a singularizar os substantivos.
E sim, concordo com a resposta que dá a si mesmo ;-)

Florbela,
Se ele é meu Vizinho e se é também seu vizinho, isto faz-nos.... vizinhas, certo? :))) E viva o Algarve!

E, olhem, quanto a próteses ou insersão de corpos/objectos estranho noutro corpo, quando esse corpo perde a memória ou o jeito do que foi ou simplesmente não se adapta por uma questão de nervoseira atrapalhada, há realmente resultados indesejáveis sim. Por exemplo, estou a caminho do SAP porque desconfio que vem aí uma infecção urinária daquelas muito ruins... :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vejo que a Tia anda a ler o meu blogue, pois escreve:

"Nós somos a espécie mais prematura, menos preparada para sobreviver e só por cá continuamos graças a essa capacidade de fabricar prótese."

Contudo, dado dormir muito, generaliza precipitadamente, esquecendo os pequenos marsupiais e tantas outras espécies. Além disso, comete erros categoriais: transita de nível para nível inteiramente diferente e baralha as categorias, criando a ilusão de um discurso. Mas com um único neurónio não pode ir longe... :-)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá Denise (Gosto brincar com a sua Tia.)

A memória não é um depósito ou um armário que podemos pesquisar mas um processo activo durante o qual me encontro intimamente comigo mesmo: o passado é sempre construção levada a cabo em função das preocupações presentes e das expectativas futuras. A memória é a matriz fundamental da mente e da subjectividade.

uf! disse...

Ó Francisco, tenha santa paciência, que eu já perdi a minha para si! Não sei quando o menino escreveu isso mas, se quiser ir a meças, é fácil: eu transcrevo o que escrevi e indico a data em que o fiz, mais o link para lá chegar.
TEXTO:
«Esta espécie primata a que pertencemos é a mais frágil das que passaram pelo planeta (tanto quanto temos conhecimento); somos, todos, prematuros. Os nossos maxilares não conseguem triturar muito mais do que a fruta; as nossas mãos por vezes nem força têm para abrir um frasco; aliás, diria - mas sem bases científicas - que as nossas capacidades físicas se reduzem na medida em que as intelectuais aumentam. A nossa grande vantagem reside em sermos «construtores de próteses»; construímos as asas para voar; construímos as barbatanas e as garrafas de oxigénio para nos movimentarmos debaixo de água; construímos alavancas poderosas para levantar o que não temos força para erguer; construímos facas, serras, machados, trituradoras para cortarem e «mastigarem» por nós...
Cosntruímos óculos, dentaduras, aparelhos auditivos, válvulas para o coração, pernas artificiais, pele artificial...
E vamos continuar a construir, sim. E vamos melhorar, sim.»
Comentário colocado às 4:13 do dia 18 de março.
link

no post «ainda a avaliação», de 9 de Março
do blog desabafos

Descanse que, se por acaso o seu texto tiver sido posterior, não vou pensar que foi o menino que andou a espreitar o meu blog. Eu sei que há vida para além dos blogs e dos manuscritos; há livros e cabeças pensantes. E sei que o menino não teria o mau gosto de perder tempo a ler-me.
Pela minha parte deixei de o ler e só reparei no seu comentário porque o meu olhar treinado à leitura em diagonal esbarrou na palavra Tia.
Mas que coisa! Não quer pedir ajuda para se livrar desses seus complexos? Deve ser complicado viver com essa mania da perseguição :-))))

uf! disse...

Francisco, os marsupiais constroem próteses? só sobrevivem à custa de próteses? Não sabia. De momento, só me ocorrem os outros primatas que usam um pau para tirar as formigas do formigueiro e nham! comê-las.
Obrigada pela informação. E sugiro que leia um pouco mais sobre os marsupiais - e não é por causa das próteses...

uf! disse...

matilde raposo :-)
espero, com as novas tecnologias, poder viver o suficiente para o demonstrar:-)
não a sustentabilidade do que é mas a daquilo em que o que é se tornará.
espero...

uf! disse...

Francisco (estou a lê-lo linha a linha, que o meu coração já não aguenta grandes irritações), não sei a que se refere quando diz «transita de nível para nível inteiramente diferente e baralha as categorias»; coloco duas hipóteses:
1. refere-se ao meu discurso caótico.
OBS: Dou-lhe razão.
2. refere-se ao facto de eu misturar humanos com outras espécies
OBS: não lhe dou razão nem lhatiro; tento esclarecer: É que eu deixei há muito de ser antropocêntrica.Não crio um abismo entre o (dito)humano e o (dito) não humano.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Claro, essa teoria está em Herder. Depois teve elaboração científica e filosófica.

A Tia lê mal: os marsupiais nascem mais prematuros.

Quanto aos primatas, está mal informada, porque não usam somente o pau.

Quanto aos complexos, não sei qual a sua constelação de complexos, ou melhor, até sei... A sua argumentação não faz sentido: repare no que disse sobre a varinha e depois sobre a bomba atómica: não é consequente na sua perspectiva. Só tem prazer em alfinetar os posts dos outros! Complexo de quê?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tia

Acabou de criar isto que refere:

"Não crio um abismo entre o (dito)humano e o (dito) não humano."

Quando falou anteriormente dos primatas. Eles, disse, não têm próteses... se não é antropocentrismo, é tecnocentrismo orientada antropocentricamente.

Anónimo disse...

Denise:)

Garanto-lhe que a pergunta que deixei não era apenas retórica. E o comentário que deixou jfrancisco acaba por demonstrar porquê, não lhe parece :)

Jorge

Denise disse...

Sim, Jorge, e gostei particularmente da definição que o Francisco apresentou para «memória» e «passado» que recupera aquilo que eu tentei exprimir.

... estes dois aqui de cima não têm remédio! :))))

Denise disse...

Jorge, esqueci de dizer que sou adepta da teoria linguista que defende a impossibilidade da existência de sinónimos.
Logo...
;-)

uf! disse...

Francisco, obrigada, sem ironia. Obrigada por me apontar as contradições e pelo seu fair play; eu é que sou a cota, eu é que devia ter paciência mas ultimamente ando assim.
Uma das coisas que mais me agrada no diálogo é a possibilidade de ser confrontada com as minhas contradições, com os meus erros, para tentar melhorar.
De qualquer forma (mantendo, sublinho, o agradecimento), julgo que se excedeu na avaliação do meu discurso.
Dizer apenas que os marsupiais são mais prematuros é não ter lido, na íntegra, o que eu escrevi. Por exemplo: os cangurus vermelhos ficam dependente da mãe cerca de um ano (nos cerca de vinte de esperança de vida); e depois sobrevivem sem próteses.
Os humanos deixam de depender dos pais muito mais tarde e, ainda assim, para sobreviver necessitam de próteses.
Quanto aos primatas e ao pau, eu assumi que era o único caso de que me estava a lembrar. Se me ensinar outros, fico obviamente agradecida.
Mas não me lembro de ter afirmado « Eles [os primatas), não têm próteses.» Reli os meus comentários e não encontro. Muito lhe agradeço se me indicar onde cometi tal falha.
cumprimentos

uf! disse...

nota: eu não sou de filosofia, nem de antropologia, nem de electro-tecnologia, nem de agronomia, nem de sociologia, nem de geografia, nem de biologia, nem de história nem de nada - mas tenho pena

Anónimo disse...

Denise:)

Não conheço essa teoria:) É que além de também não ser de nada daquilo que a Tia Adoptada já referiu, também não sou de letras :)Mas gostei dos conceitos exposto pelo JFrancisco, sim, porque,embora sintéticos, são muito claros.

Jorge

Denise disse...

Viva, Jorge-sorridente!
É uma teoria muito simples: cada significante tem o seu próprio significado. Não existem palavras sinónimas, apenas palavras de significado muito aproximado. É que, se as palavras são diferentes, é porque existem subtilezas que só nelas se compreendem. É um problema com que vivem todos os dias os tradutores e, até mesmo, cada um de nós, quando hesitatos na esolha de determinado vocábulo para a expressão das nossas representações mentais.

Ainda bem que não é de letras nem eu sou de ciências. Nesta variedade de perspectivas acabamos por nos esclarecer mutuamente e nos complementa, deixando de lado a ideia generalizada de que vocês são uns quadrados e nós uns aliens surreais :)))
... excepção às vezes para o Francisco e para a Tia quando se pegam em alfinetadas virtuais! Ahah

uf! disse...

Francisco, acho que já sei qual foi a parte do meu comentário que tresleu e que o levou a acusar-me de antropocentrismos; deve ser a parte em que eu digo «De momento, só me ocorrem os outros primatas que usam um pau para tirar as formigas do formigueiro e nham! comê-las.» Ora leia lá outra vez, p.f. Eu digo «OS OUTROS primatas». Qual foi a parte de «os outros» que não percebeu?!
eu bem tento... anda a precisar de dormir um pouco, francisco: se não são complexos, só pode ser stress, cansaço - as doenças da moda, sei lá!
:-)))

Denise disse...

Uf, sem infecção urinária. "Apenas" os sistema nervoso desregulado. É no que dá o meu nervosismo aparvalhado. :-P

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok Tia

Mudemos de página: até estou cansado de blogar! É difícil explicitar tudo por este meio...
Mas defendeu outra ideia: o "progresso"..., aliás muito antropocêntrica (em última análise).

uf! disse...

Só para terminar, Francisco; é que não tinha reparado numa pergunta sua, que passo a transcrever, devidamente contextualizada:
«Só tem prazer em alfinetar os posts dos outros! Complexo de quê?»

A resposta é óbvia, meu caro: complexo de alfinete, vulgo, «doença da costureirinha».
Que tal? não ficou muito mal alinhavada, esta minha resposta, pois não?
:-)
abraço

Manuel Rocha disse...

Vinha tentar compensar o meu silêncio ( por ausência ), mas quando verifiquei que o tema já derivara para os narsupiais, desanimei !!!

:)))

Obrigado a todos pela acesa polémica e pela qualidade da argumentação.

Espero que se repita muitas vezes e que contribua para alguma coisa.

Até já !

;)