quinta-feira, 1 de maio de 2008

Idade da Razão

Finalmente um tempinho.

As visitas em circuitos que me dispensam, a casa arrumada e é tempo de repor a ordem na horta. As chuvas de Abril deram coragem às ervas e elas querem tomar conta do campo. Chamo as ovelhas para tratar do assunto, mas há que ficar ali marcando a fronteira com o talhão de grão-de-bico. Caderno e caneta que estas são ovelhas educadas, dispensam cajado, e enquanto elas roçam proponho-me eu, na fronteira, desbravar a encomenda do Francisco.

“Pensar o ambiente como categoria filosófica exige a introdução da analítica da finitude: a morte como acontecimento certo, e a reformulação da educação tendo em vista a morte”.

Questões delicadas. Interpelo a Estrela pedindo-lhe ajuda. Ela retraça compassadamente troços de viçosa luzerna e entre dentadas contempla-me com a expressão de quem não tem dúvidas sobre estas matérias. Finitude foi o ano passado quando a Gulosa, a companheira favorita de pastoreios, não resistiu à indigestão de uma erva ruim; finitude foi o borrego que lhe nasceu morto na sequência de uma imprevista apresentação pélvica. A Estrela sente-se disso nos seus afectos. São dias e dias em que se trata mal e anda balindo pelas cercas. Mas a vida é isso. Faz-se de pequenas mortes. Não é um acontecimento, mas uma sucessão deles, em que interacções diversas desempenham papéis raramente previsíveis. De alguma forma, como solução dessas matrizes complexas, cada vida acrescenta algo às anteriores, e nesse processo não linear modifica as condições de Vida das seguintes. Desse encadeamento biogeoquímico resulta uma eternidade relativa de conjunto que deve ser lida como produto da transitoriedade dos elementos que o compõem. Estes são elos de cadeias múltiplas que se fazem, desfazem e refazem em pequenos finitos de um infinito maior. A natureza, tal como a boa ecologia e a Estrela a entendem, convive naturalmente com essas dinâmicas conflituais. Mas a humanidade não. Somos propensos a negar a morte. Mas as soluções de negação da morte em que temos investido acarretam consigo um tipo de conflitualidade com a Vida que se tem apoiado no relativismo ético para nos conduzir por um percurso a que chamamos progresso mas que se está a revelar um autêntico pesadelo ambiental.

Chegados a este ponto importa centrar o discurso no percurso civilizacional do Ocidente. Não que outras civilizações não tenham também elas a seu tempo enveredado por processos insustentáveis e dessas derivas colhido o seu declínio. Mas porque é esta a nossa, e porque pela primeira vez na História existe um fio condutor global moldado por um só paradigma, aquele que o Ocidente construiu quando transferiu o objecto da sua fé do reino dos Deuses para o condado da ciência, e decretou o inicio da Idade da Razão. É nela que se tem apoiado a concretização de uma dupla reivindicação tão antiga como o tempo: mais e melhor vida.

Mas entretanto, a secularização das ideologias religiosas trouxe também para as praças dos nossos centros comerciais uma mudança de perspectiva. Deixamos de adiar a felicidade para o além - vida de onde não há registo de regressos e de uma forma muito pragmática procurámo-la no horizonte imediato do tempo concreto de cada indivíduo. É o carpen diem. Há quem o diga como uma espécie de rendição perante a impossibilidade de forçar a vida quantitativa para além de certos limites, um género de troca simbólica de quantidade de tempo por quantidade de vivências ou a incapacidade de conceber um sentido. Adiante ! Porque qualquer que seja, a explicação é hedonista, e a prática coloca a tónica num materialismo inegociável que tem no acesso ilimitado ao consumo a sua reivindicação central.

O que já não se pode escamotear é que esta dinâmica em que temos estado empenhados tem duas consequências. Por um lado, coloca sob intensa pressão os recursos e, decorrendo das incontornáveis limitações destes, é assimétrica por condição, i.é, ao carpen diem de uns corresponde mais cedo ou mais tarde o carpir de outros.

Não vale a pena repisarmos abordagens já realizadas sobre o onde, quando e como de cada uma destas derivas, porque não é esse o ponto. O ponto é que nesta fuga para a frente empreendida pela modernidade para condicionarmos a morte ou para nos distrairmos dela, enquanto invocamos a salvaguarda da vida como valor, caímos na contradição de pôr em causa a própria Vida, algo nada óbvio mas que importa reflectir.

Porque a verdade é que em prol da vida humana a modernidade conseguiu performances assinaláveis. Em menos de um século fomos capazes de passar do modelo T da Ford ao Ferrari F40, e das sangrias aos transplantes cardíacos. Desempenhos impressionantes cuja persistente apologia tende a escamotear o que não conseguimos resolver. Mas o caso é que da mesmo forma que os bólides de Maranelo não simbolizam mais e melhor transporte, também um transplante de órgão não simboliza mais e melhor saúde. Eles são, isso sim, símbolos da genialidade do homem quando lida com recursos ilimitados. Desde a agricultura à medicina, todos os progressos obtidos no confronto vida/morte estão apoiados neste género de simbolismos de valor, em que desempenhos de ponta ilustram capacidades de espanto, sim, mas impossíveis de generalizar. E porquê ? Simples: incompatível com a relação existente entre recursos e população !
Ou seja, sonhar ser rico é fácil. Sonhar com uma vida longa e saudável graças aos avanços da ciência e da técnica, também não é difícil. Mas esses avanços materializam-se com recursos concretos, limitados, pelo que a concretização do sonho implica a apropriação e uso assimétrico desses recursos, considerando que é enorme o valor do divisor. E não ficamos por aqui. É que a expansão, mesmo que limitada, das riquezas que usufruímos sob a eufemística da qualidade de vida, implica elevadas performances energéticas que no caso do Ocidente têm sido conseguidas pelo recurso aos combustíveis fósseis. Temos de os referir neste contexto porque tem sido esta a fonte de energia que modelou a modernidade e com ela a nossa cultura de alheamento da finitude. Usados como legado de morgadio, são eles que têm permitindo suportar o crescimento populacional e a produção dos respectivos consumíveis como algo natural.

Os EUA, p.e., com apenas 5% da população mundial usam 30% de todos os recursos de energia produzidos. Desse consumo, a grande maioria não é de produção própria. O que é relevante, uma vez que o abandono da matriz económica de base regional como suporte da riqueza geradora do modo de vida com as características que temos como bem, criou sistemas de dependências que não são interdependentes. A verdade é que em contexto de penúria, não se troca arroz por petróleo nem se come turismo. Mas na busca simultânea do Reino de Sabá e do Santo Graal, produzimos este mundo tão exigente quanto alienado da real capacidade de nos continuar a alimentar a utopia. Para a gerir, concebemos instituições de poder assimétrico que viabilizam todas as extravagâncias, quando deveríamos saber que colocamos em causa a capacidade de carga dos sistemas de suporte que nos são essenciais: solo, água, biodiversidade. Para os explorar, implementamos sistemas operativos especializados que se apoiam em leituras fragmentárias do funcionamento do mundo e encaram o ambiente, o meio e o outro, como factores e produtos, custos e receitas. Com isso, confundimos os ganhos marginais de vida alcançados com um Futuro que não é ! Porque quando retiramos das equações orgânicas da Vida a Finitude, ela reduz-se à nossa vida, e essa mais não é que um ritual de passagem sem memória nem projecto.
Distraí-me !

De pança cheia as minhas roçadoras ruminam expectantes pelo regresso ao curral que o poente costuma marcar. Não terminaram o serviço e eu também não. Voltamos amanhã à procura de veredas por onde fazer passar a contra-cultura que nos possa ajudar a ultrapassar este impasse. É que não faço ideia de como se educa contra a ideologia dominante do próprio sistema que tem produzido esta deriva da Idade da Razão. Nem como se repõe a humildade na equação que tem gerido a nossa interacção com o ambiente . Talvez a Estrela tenha algo a dizer sobre isso, mas não agora, que rumina.

22 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Excelente post, Manuel.

Fico feliz por ler a "encomenda". E voltamos ao nosso velho problema: como acordar as pessoas deste sonho/pesadelo do consumismo? As grandes filosofias partiram mais ou menos do pressuposto que os humanos eram todos iguais, até mesmo na inteligência, mas não são. Por isso, todos os grandes "ideais" converteram-se num pesadelo quando foram cumpridos. A Idade da Razão converteu-se no seu contrário: a loucura do consumo. E o progresso tornou-se regressão. sempre com a ajuda do sistema capitalista.

Isto significa que temos de rever esses "ideais" e tomar consciência que as "instituições" que os deviam realizar já não merecem a nossa confiança. O pior é que a própria democracia está degradada e transfigurada e, nessas circunstância, ou aguardamos uma catástrofe natural, ou uma guerra devastadora ou uma ditadura esclarecida. Contudo, podemos repensar o homem na esperança de o preparar para a mudança radical de rumo...

Volto amanhã para o reler com mais atenção!

Denise disse...

Excelente texto, Manuel.
Regresso amanhã, com mais fôlego, para relê-lo e, se possível, comentar também...


... Francisco, existirão «ditaduras esclarecidas?»

Anónimo disse...

Manuel Rocha e Francisco Saraiva de Sousa:

Permitam-me palavra de duplo incentivo esforços de ruptura que vêm operando com abordagens convencionadas problemática ambiental. Um acaso feliz de entedimento raro entre pensamento de sintese de perspectivas diversas.
Continuem e bem hajam !

Trigo Pereira

Anónimo disse...

Gostei muito deste texto, Manuel.
Da distinção entre vida e Vida, da critica da razão, da forma como descreve a complexidade, de como deixa abertas as portas para a leitura do sentido do humano num continuo acidentado, e do esforço que faz para descomplicar um tema que não é fácil.

Florbela

alf disse...

empresta-me a Estrela para eu escrever uns posts? É preciosa uma fonte de inspiração assim!

Belo post e, para além das questões que aborda, levou-me a passear pelos campos.

Penso que por detrás destas questões está a angústia de não sabermos quantificar a nossa acção sobre o planeta.

Há uma quantificação fundamental e que ainda ninguém fez, que é a seguinte:

a quantidade de vida que pode existir na Terra está limitada pela disponibilidade de certos compostos que lhe são indispensáveis, como os azotados ou o CO2, e também por uma coisa muito importante, a energia.

nós somos uma lâmpada de uns 100W acesa noite e dia, tal é a ordem de grandeza da energia que consumimos em média. Onde vamos buscar essa energia? à alimentação. Onde vão os alimentos buscar essa energia? Ao Sol, através da fotosíntese.

Portanto, a quantidade de energia solar que pode ser aproveitada determina a quantidade de Vida que pode existir sobre a Terra de forma sustentável.

As energias eólica ou hídrica não são mais do que consequências da energia solar.

Os rendimentos dos processos de aproveitamento da energia solar são baixos, quer seja a fotosíntese ou os processos inventados pelo homem.

O uso de combustíveis fósseis é a utilização de energia solar que ficou acumulada no passado.

Ora é importante termos uma noção da quantidade de energia solar de que dispomos e que conseguimos aproveitar. Isso permitir-nos-ía ter uma noção da quantidade de população que podemos ter e de quanto energia podemos gastar por pessoa.

Não são contas fáceis de fazer.

Mas este é um balanço que temos de ter presente: quanta vida suporta a Terra e em que condições?

Por agora, estamos a suportar a população com os combustíveis fósseis; estes não são infinitos e podemos deparar-nos de repente com várias vezes a população que a energia que recebemos do Sol pode sustentar.

alf disse...

E mais uma coisa:

E também sentimos um perigo: a nossa sobrevivência está de novo dependente da coisas que não controlamos. Quando a produção de alimentos era diversificada, um azar num lado podia ser compensado por outro. Mas com a centralização e a produção em grande escala, a escala dos "azares" passou a ser outra porque perdeu-se diversidade - diversidade de espécies cultivadas, diversidade de locais de cultivo

Não será isto um bom tema para os seus posts? já que estamos em maré de desafios... lol

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Extrai esta citação de Guerra Junqueiro do meu estudo "Guerra Junqueiro: Poesia e Filosofia". Trata da dialéctica negativa do Progresso, antecipa a crítica da racionalidade instrumental de Horkheimer, Adorno e Marcuse, e vem a propósito da ideia de progresso dominante que refere no seu post:

"O Progresso, marca-o a distância que vai do salto do tigre, que é de dez metros, ao curso da bala, que é de vinte quilómetros. A fera, a dez passos, perturba-nos. O homem, a quatro léguas, enche-nos de terror. O homem — [entenda-se o super-monstro] — é a fera dilatada.
«Nunca os abismos das ondas pariram monstro equivalente ao navio de guerra, com as escamas de aço, os intestinos de bronze, o olhar de relâmpagos, e as bocas hiantes, pavorosas, rugindo metralha, mastigando labaredas, vomitando morte.
«A pata pré-histórica do atlantossáurio esmaga o rochedo. As dinamites do químico estoiram montanhas, como nozes. Se a presa do mastodonte escavacava um cedro, o canhão Krupp rebenta baluartes e trincheiras. Uma víbora envenena um homem, mas um homem, sozinho, arrasta uma capital.
«Os grandes monstros não chegaram verdadeiramente na época secundária; apareceram na última, com o homem. Ao pé de um Napoleão, um megalossáurio é uma formiga. Os lobos da velha Europa trucidam algumas dúzias de viandantes, enquanto milhões e milhões de miseráveis caem de fome e de abandono, sacrificados à soberba dos príncipes, à mentira dos fariseus e à gula devoradora da burguesia cristã e democrática. O matadouro é a fórmula crua da sociedade em que vivemos. […] O deus milhão não digere sem a guilhotina de sentinela. Os homens repartem o globo, como os abutres o carneiro. Maior abutre, maior quinhão. Homens que têm impérios, e homens que não têm lar". (G Junqueiro)

Em Portugal, temos nos poetas uma bela "filosofia da natureza" ainda por tematizar.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Também não gosto de ditaduras, embora elas possam emerginar nestas circunstâncias de regressão.
Quando mencionei a ditadura esclarecida, fazia eco da "ditadura pedagógica" de Platão e de Marcuse: um governo para a mudança social qualitativa que prepare os homens para os novos desafios.

Anónimo disse...

Leio há tempo os seus textos e julgo chegado o dia de romper silêncio para deixar registadas duas notas.
A primeira, para dar conta da surpresa que têm sido as perspectivas ambientais que tem trazido a público nas suas intervenções.
A segunda, para expressar a minha simpatia pelo esforço. Não só na divulgação de conhecimentos mas também na procura de leituras inovadoras dos problemas.

A. Martta

Manuel Rocha disse...

Obrigado, Gentis Comentadores, pelos reforços positivos.

Gostei da imagem do “deus milhão” do GJunqueiro. Bela metáfora, Francisco.
A questão da capacidade institucional que levanta parece-me óptimo tópico para futuras dissertações.

Fica assente a sugestão, Alf…qualquer dia isto transforma-se num programa de discos pedidos…:)

antonio ganhão disse...

Manel, gosto mais quando nos fala dessa nostalgia bucólica de urbano refugiado atrás de um cajado, que apenas lhe serve de apoio...

fa_or disse...

Manuel,
venho agradecer, sinceramente, as suas visitas e comentários no meu blog.
Creia que me são muito importantes todas as achegas sobre o tema visado.

Confesso-lhe que o seu blog é um local que já tenho visitado, se bem que não me tenho atrevido a comentar por achar, muitas vezes, que o modo como expõe as suas ideias é "areia de mais para a minha camionete".

Bom fim de semana
Cumprimentos

alf disse...

um obrigado pelo texto do G. Junqueiro que o J. francisco saraiva de sousa aqui pôs, gostei muito ler. Leva-nos a reflectir e a pensar se o problema está no progresso ou no homem; mas a ter presente que ao progresso está inalienávelmente associada uma crescente capacidade de destruição. A minha esperança é que o progresso também conduza a um Homem melhor.


Manuel, os programas de discos pedidos costumam ter sucesso lol... mas às vezes sai cada pedido...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

O André já fez o post sobre o movimento dos sem terra no Brasil. Está editado. :)

E. A. disse...

Viva Manuel,

Belo texto!
Fiquei estancada no "carpe diem" de Horácio: «Enquanto falamos terá fugido o tempo cruel: vive o dia-a-dia, acreditando o menos possível no dia seguinte.» Assim acaba a sua ode mais famosa, exaltando preceitos epicuristas.
O epicurismo e o estoicismo, nascidos já no período decadente da Filosofia grega, incidem sobre a morte, dado serem seitas terapêuticas que preconizam o repouso na felicidade (eudaimonia), e, para isso, é necessário o confronto com a morte.
A tese essencial é: temos medo da morte porque amamos o ser enquanto ele não é, como infinito - daí a compulsão desenfrada pelo consumo.

Deixo um pouco de Séneca, da sua Consolação a Márcia (XX 2-3), porque, aludindo a uma tese de Bernard Williams, as éticas não são evolutivas, logo, devemos revisitar as antigas e repensar a partir delas.

[Márcia (senhora romana abastada) perdeu um filho e Séneca, a fim de consolar a sua dor, faz um elogio da morte]

Elle affranchit l'esclave en dépit du maître, brise la chaîne du captif, et fait tomber les inflexibles verrous que tient fermés la tyrannie. Elle montre à l'exilé, dont les regards et la pensée sont incessamment tournés vers la patrie, qu'il importe peu à quelles cendres se mêleront les nôtres. Si la fortune a iniquement réparti des biens qui de droit sont communs à tous ; si, de deux êtres nés égaux, elle a livré l'un en propriété à l'autre, la mort ramène entre eux l'égalité. Seule la mort ne fait rien d'après le caprice d'autrui : on n'y sent point la bassesse de son état, on n'y a point de maître à servir. O Marcia ! elle a été le voeu de votre père. Grâce à elle, ce n'est plus un supplice d'être né ; grâce à elle, les menaces du sort ne m'abattront point, et mon âme, franche de ses atteintes, restera maîtresse d'elle-même ; j'ai un port où me réfugier.
Je vois chez les tyrans des croix de plus d'une espèce, variées à leur fantaisie : l'un suspend ses victimes la tête en bas ; l'autre leur traverse le corps d'un pieu qui va du tronc à la bouche, d'autres leur étendent les bras à une potence ; je vois leurs chevalets, leurs verges sanglantes, leurs instruments de torture pour mes membres, pour chacune des articulations de mon corps ; mais là aussi je vois la mort. Plus loin, ce sont des ennemis couverts de sang, des citoyens impitoyables ; mais à côté d'eux je vois la mort. La servitude cesse d'être dure, quand l'esclave, dégoûté du maître, n'a qu'un pas à faire pour se voir libre. Contre les misères de la vie, j'ai la mort pour recours.


A última frase - «caram te, uita, beneficio mortis habeo», não gosto da sua trad. francesa (copiei esta pq sei q sabe francês), é: Ó vida, a ti te estimo, pelos benefícios que a morte trará! Segundo o epicurismo, a vida teria valor pelo reconhecimento da finitude. :)

Manuel Rocha disse...

Maf-ran;

Obrigado pela visita e sinceros cumprimentos pelo seu trabalho.

Quanto á questão da areia e da capacidade de carga da caixa da camioneta, há várias hipóteses:
-fazem-se várias viagens;
-usa-se um carrinho de mão;
-leva-se a balde;
-em caso de urgência, convocam-se os vizinhos para uma ajudada e no fim organiza-se um baile comemorativo !

:))))

Manuel Rocha disse...

Papillon-Maior,

É um gosto vé-la esvoaçando poemas raros nas brisas do Levante !

Várias coisas sempre me agradaram nas suas prosas.Mas hoje não me vou referir ao eterno-feminino-intenso que sempre transpira dessa sensibilidade. Fico-me pelo gosto pela forma como sempre aborda a questão da ética, voltando as costas a derivas em prol de “novas éticas” quando sabemos que raramente está sequer incorporado o sentido fundador da primeira.

joshua disse...

Estava por aqui, Manuel, a reler todas as tuas reflexões e a pensar no para que elas apontam, seja o tema qual for: a emergência de uma articulação perfeita entre Razão, Ética e Técnica, coisa que só ocorrerá por perda das ilusões consumísticas que ainda tantos adeptos, aspirantes e praticantes inconscientes têm.

O Sol do Alf reconvertido em energia inesgotável directa pode ser a resposta e a água do mar dessalinizada, com o seu hidrogénio sintetizado, água inesgotável a reverdescer desertos litorâneos, o caminho.

Ulteriormente, alcançaremos um modelo harmonioso de nos relacionarmos com as coisas, com os outros e com a Natureza que não passe pelo alheamento da finitude.

Tivemos mais milénios de amizade mais ou menos conformística com a finitude que de alheamento dela pelo que é de esperar que essa amizade a possamos retomar sabiamente ou por reflexão, coisa que tão bem promoves, ou forçados pelas consequências-caos da loucura desencadeada pela avidez bolsista dos Porcos Virtuais e Futuros, impossíveis de ser paridos.

O paradigma vigente pratica o oposto da máxima: «Quem quiser salvar a própria vida perdê-la-á e quem perder a sua vida por Minha causa, salvá-la-á.» Ou pelo menos fecha-se na prática suicidária da primeira parte dela, máxima. Precisamos de regressar à totalidade de este paradoxo operativo de Vida em amizade com a finitude. Descelestializar esta vida para que a Vida se possibilite, eis o que falta.

Abraço
O teu blogue é uma obra de reflexão preciosa no panorama geral!

PALAVROSSAVRVS REX

fa_or disse...

:))
Também não é mal pensado...
o pior é tempo para essas andanças todas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Parabens, Manuel Rocha. Um óptimo dia de luz e festa! :))

E. A. disse...

Ora, ora, n sabia!
Bom signo - Touro - signo telúrico, do sensualismo e da força viril!

Deixo-lhe o meu hino da alegria em língua portuguesa preferido:

É URGENTE O AMOR

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

EUGÉNIO DE ANDRADE

Felicidade! E que conte muitos!

E. A. disse...

De rien. ;)