segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tribal War

Há aí uns tempos o Hugo e a Ana (uns catitas) apareceram cá por casa. Num desses dias estávamos de digestiva tagarela de volta de um chá de mirtilo, quando o Hugo se desculpou pela retirada precoce invocando que tinha que ir mandar umas tropas para defender a aldeia do não sei quantos que estava a ser atacada.

- Tens o quê ?!
- Então não sabes ?! Aquele jogo, o “Tribal War”!…

Vocês sabem, claro, mas eu não sabia. Inconvenientes da “interioridade”. Mas ele explicou-me direitinho que o jogo organiza-se em aldeias que o jogador administra e cuja subsistência, riqueza e progresso, dependem dos recursos que consegue gerar ou gamar aos vizinhos. Depois de olhar melhor para a coisa, rapidamente concluí que reproduz com uma assombrosa crueza aquilo que, embora com mais sofisticação e inenarráveis sofismas, se passa na vida real. Há pois essa diferença entre o jogo e a realidade: a ideologia não tem lugar no jogo, isto é, no ambiente do pc as coisas são o que são sem necessidade de se mistificarem de outra coisa qualquer, e nessa medida o Tribal War é uma belíssima lição de economia politica na sua expressão mais vernácula.
Assim, quando o Hugo para “crescer” já não lhe chega o que produz e precisa do que está nos celeiros do pc de outro gajo qualquer, manda as tropas ir lá buscar o que lhe inveja e se o outro não tiver com que se defender ou uma aliança tácita que o proteja , está feito : out of game !

Era assim que segundo consta faziam os Romanos antes de JC apresentar um caderno reivindicativo que fez tanto sucesso que a partir daí os herdeiros de Roma continuaram a fazer exactamente o mesmo que já faziam antes, é verdade, mas com a grande diferença de se benzerem primeiro.

A matriz cultural cristã do Ocidente colocou-nos, assim, perante a necessidade de travestir as tradicionais dinâmicas de usurpação e conquista de lógicas menos lineares, na tentativa de iludir a contradição da nossa prática com o corpo central das nossas doutrinas fundadoras. Um dos ensaios iniciais desta estratégia foi a tentativa de “libertação” da Terra Santa, processo no qual os saques de Constantinopla ou o escorraçar da mourama que fundara Lisboa foram meros acidentes de percurso, bem entendido! Mas houve mais.É que a ideia de que há práticas culturais e modos de vida "impróprios para consumo" não é de agora nem é criação da ASAE. Existe na matriz civilizacional do Ocidente uma propensão historicamente comprovada para conviver mal com o que é diferente e para implementar a nossa própria concepção do que está bem. É algo que nos está nos genes e é transversal a tudo o que fazemos. A nossa história poderia ser narrada nesse registo de convívio pouco pacifico com a diferença. Assim, quando uns anos depois o Ocidente resolveu ir buscar especiarias por mar em vez de as continuar a pagar a quem até aí as trazia por terra, rapidamente se impôs a necessidade de levar uns evangelizadores na bagagem que, como contrapartida civilizadora pelas possessões comerciais de que nos fomos apropriando pelo caminho, suponho eu, explicaram aos povos dessas bandas aqueles que foram os predecessores dos regulamentos comunitários que hoje se aplicam aos galheteiros. Esta lógica estendeu-se às Américas onde de novo se materializou a nossa inesgotável propensão evangelizadora e civilizadora, num negócio memorável que nos deu a posse de um continente inteiro a troco de uma crença salvadora para os convertidos que restaram para a fruir, depois de devidamente acantonados.

E deixem-se disso que estão a pensar! Não estou a escrever um ensaio anti-ocidente, nem nada que se pareça, embora admita o cinismo inevitável do registo. Mas a história é isto, uma permanente Tribal War, e não temos sequer forma de saber se o Mundo hoje seria melhor se ontem as coisas tivessem decorrido de outra forma. Se trago o assunto à estampa é apenas porque não me parece que ele possa ser escamoteado por quem seriamente pretenda contribuir para uma discussão construtiva sobre as questões da geografia da fome.

Se ser pobre é sobreviver com muito pouco e com grande dificuldade, quando essa dificuldade dá lugar à incapacidade de produzir sequer o que comer, a isso chamo miséria. Ora a capacidade cultural de obter os meios necessários à sobrevivência é um processo de longa maturação que resulta da solução de uma matriz múltipla, onde convergem os condicionalismos geográficos e o desenvolvimento circunstancial das aptidões humanas para os manipular. Estes equilíbrios encerram em si fragilidades aleatórias inerentes às características concretas das soluções encontradas, normalmente resolvidas pela incorporação nos códigos de tradições locais de valores que permitem de algum modo criar a desejada reprodutividade da solução encontrada . É bom exemplo o saudável princípio agrícola de afolhamento do espaço e de rotações de cultivos instalado na tradição mediterrânica. Quando este processo é interrompido e abruptamente alterado pela introdução de inovações sem que estas decorram em paralelo com outras capazes de criar um sistema alternativo e coerente, as desregulações são inevitáveis. Como sucede quando se actua repentinamente sobre a mortalidade infantil, reduzindo-a, sem que esse processo seja acompanhado da resposta na produção alimentar ao aumento populacional que daí possa decorrer.

O encontro do Ocidente com o Mundo foi um desses ressaltos de aceleração da história que ainda hoje e depois de séculos não está devidamente resolvido, e tem na miséria de muitos uma das suas consequências. Uma das razões a meu ver centrais para explicar esse resultado, é o tremendo desajuste que se criou entre a mudança de paradigma introduzida nos sistemas de valores e a (in)capacidade de o reproduzir. Não se sonha “fora” do que se conhece, e nas últimas décadas a banalização mediática do “american way of life” colocou a fasquia do sonho altíssima em qualquer recanto do Planeta. O dinheiro impôs-se como mediador no acesso ao poder e até à felicidade. A miséria instala-se nessa "região" onde a recusa da pobreza como paradigma se encontra com a incapacidade de obter dinheiro para a resolver comprando o que culturalmente se deixou de ser capaz de produzir. Ghandy percebeu isso quando escolheu a manufactura do linho e do sal como reivindicações simbólicas da luta pela independência da Índia. Ele sabia que a independência dos povos é cultural antes de ser política ou económica.

23 comentários:

Anónimo disse...

Pressinto que o Manuel está a lançar as bases para pôr em causa o circuito das ajudas humanitárias. A abordagem da questão parece-me muito bem conseguida, desde logo porque a destrinça entre pobreza ( consequência ) e miséria ( causa) não é imediata. E de seguida porque recoloca a tónica sobre a necessidade de um equilíbrio entre expectativas e recursos, nomeadamente culturais e não apenas “naturais”, que como já tem frisado noutros textos a modernidade Ocidental dá por irrelevantes.
Deveras interessante!

Florbela

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Ao ler o seu post, no momento em que falava da evangelização, lembrei-me de um post africano, em que o autor citava a "filosofia do dinheiro" de Simmel, para explicar uma suposta realidade africana: o telemóvel. O impacto sobre mim foi este: "Mas são dois mundos completamente diferentes!" Agora sei que ele foi bem "evangelizado": colonialismo cultural! :)

Anónimo disse...

Partilho premissa da tese. Economia é alheia ao cultural. Leitura hegemónica prefere mercado como explicação/ solução todas as coisas, embora inconciliável com qualquer avaliação séria história económica modernidade. Importam ensaios novas teses que ajudem romper pensamento circular.

Cumprimentos,
Trigo Pereira

Blondewithaphd disse...

Bem Manel, falas da tua "interioridade" mas cosmopolizas o discurso de uma maneira... Hmm, desconfio dessa "interioridade"!
A tónica malthusiana, que revejo aí no decréscimo da mortalidade infantil com o necessário aumento de produtividade, não é letra morta, embora tantas vezes se desprezem na nossa contemporaneidade as correntes de pensamento da escola finissecular. Enfim, chamam-lhe progresso.
Por mim, o mais interessante é ficares no imperialismo no preciso momento em que eu o começo. Um bocado à Hobsbawn (menos a conotação política) e o que havia a dizer sobre as modernas formas imperialistas...

Denise disse...

Muito bem, caro vizinho. Vá agora falar de Ghandi e da independência cultural ao nosso Primeiro e recomende-lhe uma reflexão séria sobre o que se tem vindo a fazer com a pasta da Educação (que é onde me parece residir a base da compreensão da cultura)...
A partir daí, a miséria teria os dias contados.
Ou falamos de uma utopia inatingível?

Manuel Rocha disse...

Florbela,

As Mulheres são intuitivas, eu sei…:) Ou então sou eu demasiado óbvio !Mas sim, é bem possível que tente desmontar algumas das incongruências das legitimas preocupações e acções humanitárias.

Francisco,

Exacto!
Um interessante contributo que Simmel poderia trazer a esta nossa questão era a naturalidade com que encarava a conflitualidade. Bem como a preferência que demonstrava pela abordagem das “partes” dando por adquirida a impossibilidade de se compreender o “todo”. Dou-lhe razão nisso. Sobre a “filosofia do dinheiro” nunca li nada dele…:(

Trigo Pereira,

Sim, não sei como mas acho que as funções lineares que nos têm tentado explicar o funcionamento da economia, precisam de uma séria e profunda revisão. Claro que a heterodoxia das abordagens nesse sentido se confronta com a antipatia natural do establishment.

Blondy,

Pois o Sr Malthus teve o mérito de chamar a atenção para a necessária relação população vs recursos, e fracos são os progressos consolidados quando passam ao lado dessa questão . Claro que depois o que não precisava era de começar a fazer projecções como se a vida fosse uma função linear. De resto passados estes anos todos o método continua de boa saúde, como nos tem recordado o Sr Al Gore…:)

A luta de classes como bitola para a leitura da relação do imperialismo económico com a geografia da fome, a mim parece-me curtinha, mesmo levando em conta todas as tradições inventadas nesses processos. Não sei se os “Ecos da Marselhesa” trazem algo de novo para a questão porque ainda não o li…Recomendas ?

Denise,

Os governantes para mim são o resultado duma equação em que as variáveis somos nós. E é bom que assim seja, pelo menos enquanto continuarmos a opinar que a democracia é o melhor dos sistemas políticos conhecidos. So, antes de fazer ao PM a sugestão que bem recomenda, eu optaria por a fazer aos cidadãos, aos pais, aos professores, às associações cívicas, às autarquias. Isto porque não acredito em revoluções efectivas que não sejam as das mentalidades. A superação da miséria requer, a meu ver, um paradigma diferente e que não se decreta. Utopia ? Sem dúvida! Tal como a de supor que se resolve deitando mais e mais dinheiro para o famoso “Rio Ajuda”. Com a diferença de que por aqui já se devia ter percebido até onde se chega, logo, faria sentido procurar outros caminhos, que também não seriam necessariamente os da ingenuidade politica de Ghandi:))

antonio ganhão disse...

"...rapidamente se impôs a necessidade de levar uns evangelizadores na bagagem, como contrapartida civilizadora..."

Hoje o estado manda a ASAE... o povo, esse continua a benzer-se, perante estes novos evangelizadores!

Denise disse...

Concordo consigo, meu vizinho, quanto à "campanha de sensibilização" da massa social como pré-revolução das mentalidades. A sugestão que eu lançara a propósito do PM, porém, dizia respeito a uma área onde é mais directa a acção política. Não por decreto mas, precisamente, pela valorização da educação e, assim, da sensibilidade para a superação da miséria.

Quanto à ingenuidade política do Ghandi... o certo é que ele lá abanou o que queria abanar.
;-)

alf disse...

Muitas verdades a que nós queremos fechar os olhos.

Há mais jogos como esse, há toda uma classe de jogos; são ainda um pouco básicos, porque a realidade é hoje mais sofisticada, as técnicas de "ganhar" usam recursos que não estão disponiveis nesses jogos, nomeadamente o recurso de legislar, ou seja, alterar as regras do jogo.

O que o Ghandi fez foi destruir o "rio ajuda". Como disse no comentário ao post anterior, não há outra saída para a miséria que não seja lutar pela autosustentação.

Todos os povos verdadeiramente independentes têm isto profundamente marcado no seu ser. Por isso é que os trabalhadores ingleses da indústria textil, altamente prejudicados com a iniciativa de Ghandi de acabar com a importação dos texteis de inglaterra, o aplaudiram quando ele foi a Inglaterra.

(já agora: tal como os trabalhadores ingleses da industria de telecomunicações meteram papelinhos a insultar os portugueses nos emissores de radiodifusão que a antiga Emissora Nacional foi comprar a Inglaterra quando em Portugal existia uma indústria que fazia equipamentos mais avançados que os ingleses...)

Rita disse...

Pois... infelizmente, vivendo nós no ocidente, só temos 2 hipóteses. Ou tentamos boicotar o sistema e tornamo-nos anticorpos irritantes que nunca o vão deixar avançar (para melhor ou para o colapso), ou alinhamos no sistema e tentamos ser uma das melhores partes dele... o que mesmo assim, suspeito, inclui gastar tanta água, enegia e alimento e contribuir tanto para a delapidação de outras culturas que só por si é um crime. Complicado....

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Pensar o ambiente como categoria filosófica exige a introdução da analítica da finitude: a morte como acontecimento certo, e a reformulação da educação tendo em vista a morte. É isso que vou meditar.

Manuel Rocha disse...

António,

Eu até nada tenho contra que o povo se benza. Desde que saiba o que está a fazer, claro.
;)

Denise,

Ferpeitamente!
Apenas gostava de acrescentar que gosto de pensar a educação como função colectiva que compete à sociedade no seu todo! Aqui o vizinho é francamente contrário à institucionalização compulsiva das funções sociais. Desde os armazéns de infantes aos armazéns de anciãos, passando pelas fábricas escolares. Penso que essa deriva social leva a que um todo orgânico que devia funcionar como um corpo, funcione como uma indústria. O resultado formal poderá parecer semelhante. Mas o valor funcional é que deixa muito a desejar quando submetido a uma medida qualquer de humanidade. Tenho para mim que, à semelhança da ética, a humanidade como valor não se aprende nem se ensina. Inspira-se, no ar que respiramos. E desde logo em casa. Ora nós não gostamos de politicas públicas dentro de casa, certo ? Portanto…
;)
Quando ao Ghandi, abanou sim Senhora. Abanou de tal maneira que Caxemira “nasceu” e a India e o Paquistão recorreram ao argumento atómico para se manterem atrás das respectivas linhas…Entretanto Ghandi já tinha levado um tiro!

Alf,

Sim, os jogos reais também usam a via diplomática. E nela recorrem ao velho argumento : “ ou comes a sopa ou levas nas ventas”. Como é óbvio há sempre quem prefira comer a sopa…:)
Não sabia dessa das telecomunicações…tem graça sim senhor !

Rita,

É complicado sim, Rita, concordo. Humanitarismo e não ingerência, não ligam bem. Mas também não sei como se resolve isso.

Francisco,

Quando era confrontado com questões de propriedade, costumava o meu avô dizer que “nosso, mesmo nosso, é o fato usado com que vamos para a cova”. O que cá se deixa é memória que passa a pertencer a quem fica. Mas essa memória devia ser elo de uma cadeia mais vasta, noção que arredamos do nosso horizonte. Sentimo-nos omnipotentes e imortais, ou simplesmente cobardes demais para encarar com serenidade a magnificência desta ordem natural. O impacto dessa postura muda o meio e muda a vida. Mas este é o tema para o próximo post, certo ?

Anónimo disse...

Olá Manuel,

Não é um comentário aos textos que vinha deixar, mas já que falo nisso posso dizer que os achei excelentes porque estabelecem uma distinção importante entre realidades que temos por sinónimas.
Tentei contacta-lo para o e.mail no seu perfil mas as mensagens vêm devolvidas.O assunto que gostava de lhe colocar é o seguinte. Por proposta de um pequeno grupo, o Centro de Formação sedeado aqui na escola pretendia organizar algo do género de uma jornada ou um seminário sobre ambiente, e tinhamos o maior gosto se o Manuel quisesse assumir essa tarefa. Por favor contacte-me para matcosta@gmail.com. E não se atreva a deixar-me ficar mal na fotografia depois das expectativas que tem criado ( risos ).

Aguardo.

Matilde

uf! disse...

Bom dia, Manuel.
Fiz uma leitura em diagonal do seu último post ( e só dele; é a primeira vez que o visito)e vou precisar de voltar com um pouco mais de tempo. É que eu penso que não concordo numa coisa - isso de se ter colocado a fasquia alta, no sonho americano - para mim é tão, mas tão chão, esse sonho.
Estou, porém, convicta de que se tratou de uma leitura ensonada e excessivamente diagonalizada. Voltarei com mais tempo, para ler os posts e os comentários. Não, não é uma promessa: é uma ameaça
:-)
Bom feriado - que o 25 de abril sirva, ao menos, para algum deleite...
um cyberabraço

Anónimo disse...

Matilde,

Uma vez que somos colegas, permita que lhe diga que se quem assina este blog é quem eu penso, não poderia estar melhor servidas ( risos ).
E o Manuel que me desculpe o atrevimento ( risos ).

Florbela

Manuel Rocha disse...

Matilde,

Olhe lá, então quer meter-me em trabalhos ?
Já respondi para o seu mail.
Obrigado


Tia,

Tremo de pavor perante a sua ameaça :)
Volte sempre.
E quando voltar repare que aquele "altissima" foi medido numa escala quantitativa. Quando uso a escala qualitativa, tenho tendência para recorrer a niveis abaixo do solo para classificar o AD...:)


Florbela,

As inconfidências pagam-se caras...;)

uf! disse...

Manuel, volto, mas ainda vou precisar de algum tempo mais para digerir o seu texto. Gostaria, contudo, de deixar já umas breves notas:
1. Gostei de o ler; é estimulante, embora pudesse ter um pouco mais de interrogações e menos afirmações :-)
2. E...
Temos uma vivência recente que ilustra bem a sua tese sobre o perigo das mudanças abruptas: a escola portuguesa. Com o 25 de Abril abriram-se as portas; disse-se que se tinha democratizado, mas o que se fez foi elitizar ainda mais. As escolas continuaram a funcionar, para essa muito mais heterogénea população, com os mesmos meios que funcionava com uma pequena elite... Quanto a mim, foi essa a grande falha do 25 de Abril- ou o grande golpe, segundo as perspectivas.
3. Mas...
Já que falo em perspectivas, confesso-lhe uma coisa: evito falar em Ocidente e Oriente pois não consigo deixar de ver tais designações como etnocêntricas. A Ásia é tanto o nosso Oriente quanto a América o Oriente da Ásia... Por isso, quando se fala na vinda de um «anti-cristo», que surgirá do Oriente, ele pode muito bem ser o Bush - depende de onde se localiza quem faz a afirmação...
5. Acresce que, para mim, a pobreza, a miséria são um pouco mais do que aquilo que adianta;são culturais, sim, e assentam muito na imposição de um conceito de riqueza, do exterior para o interior. Mas para desenvolver este ponto tenho de reler a última parte do seu texto - a memória já não me ajuda como soía...
até à próxima

uf! disse...

mais uns salpicos:
- Deni, não me parece que o Manuel esteja a considerar que Ghandi tenha sido politicamente igénuo - ou está?
- Manuel, acha mesmo que as mulheres são «intuitivas»? O que é isso da intuição, para si :-))) Provocatoriamente, eu diria que «intuição» foi um vocábulo criado por uma mentalidade masculina, para escamotear a existência de valores e inteligências diferentes. (uma forma de desvalorizar o tipo de inteligência da mulher e o que ela valoriza)...
As mulheres valorizam, estão atentas a coisas diferentes das que atraem a atenção dos homens (peço-lhe, naturalmente, que contextualize esta minha afirmação no aqui e agora, pois que nem só de genética se faz um ser humano); por isso, o exercício mental que desenvolvem também é diferente.
Não?

Manuel Rocha disse...

Tia,

1.Obrigado. Agradeço sugestões de interrogações. Direi se concordo.
2. Bom exemplo.
3.Não sei se há um Oriente no sentido em que digo Ocidente. Reporto a uma matriz civilizacional peculiar, independentemente das condições geográficas onde ocorre. Claro que toda a generalização é redutora. Assumido. Mas julgo servir o propósito sem desvirtuar a história, atendendo a que é sob essa matriz filosófica, politica, económica, religiosa que se estrutura a modernidade ( colonial e neo-colonial aka globalização) pré capitalista e capitalista que releva nesta abordagem. Justifico: porque incentiva a produção para o mercado.
4. ?!
5.De acordo. Não pretendo cotar a pobreza pelo índice nichey. Há miséria endinheirada. E pobreza digna. Rejeito a “linha de água” de 1 ou 2 USD per capita - conceito absurdo que não esclarece nada.

- Sim. O Manuel está a considerar Ghandi politicamente ingénuo. Não na capacidade de analisar e confrontar o problema colonial. Mas no que sonhou para o day-after. Subestimou a verdadeira natureza politica e cultural do estrato social subjacentes à realidade que conheceu sob o manto imperial britânico.
- Sim. Intuitivas como perspicazes, capazes de ver para além do olhar. Capacidades sub-aproveitadas. Inclusive pelas próprias ( provocação retribuida...:))

Tinha razão quando da ameaça: estou exausto …:)))

uf! disse...

obrigada.
o 4 ficava ao seu critério :-))))
de acordo, quanto ao day-after.
insisto na intuição como eufemismo patriarcal ( incluo as mulheres, claro) para designar uma forma de inteligência encontrada, mais frequentemente, entre as mulheres.
Quanto ao Oriente/Ocidente, entendo o seu ponto de vista; a minha posição é uma opção política: sabendo que a lingua reproduz a realidade, no duplo sentido de a retratar e de a multiplicar, evito usar assim os conceitos de ocidente e oriente, que implicam um ponto central (a ocidente de/a oriente de )
Bom descanso
:-))))

Manuel Rocha disse...

Tia,

Ok !

4. " Definitivamente agradas-me, pequena!"

Ocatarinetabelachichix

:))

uf! disse...

um bom 25 de Abril...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Em Maio tb edito a "encomenda": assunto complexo. :)